Avião misterioso da CIA pousa no Brasil e aumenta tensão diplomática com os EUA

Aeronave secreta “Gatekeeper” pousou em Porto Alegre e seguiu para São Paulo sem explicação oficial

Por Sandra Venancio – Foto Wikimedia Commons

Na tarde de terça-feira (19), um avião militar dos Estados Unidos pousou discretamente no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, despertando imediata atenção. O Boeing 757-200, matrícula 00-9001, completamente branco e sem qualquer identificação, é conhecido como C-32B “Gatekeeper” — aeronave usada pelo 150º Esquadrão de Operações Especiais da Força Aérea norte-americana, frequentemente associada a missões secretas da CIA. Após permanecer algumas horas no solo gaúcho, o avião decolou às 20h25 rumo ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. O Ministério da Defesa confirmou que a aterrissagem ocorreu com autorização oficial e “sem intercorrências”, mas até o momento nenhuma explicação foi apresentada sobre o objetivo da missão.

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O “Gatekeeper” é um modelo altamente modificado, equipado com sistemas avançados de comunicação, sensores e capacidade de reabastecimento em voo. Projetado para transportar equipes de ação rápida, diplomatas e agentes de inteligência, é considerado peça estratégica em crises internacionais. Já foi utilizado, por exemplo, durante a explosão no porto de Beirute em 2020. Além de infraestrutura própria para operar em locais isolados, a aeronave dispõe de escada aérea embutida e guincho para bagagens, o que a diferencia dos modelos oficiais usados pela Casa Branca.

A presença do avião norte-americano ocorre em um momento delicado nas relações Brasil-EUA. Nas últimas semanas, o governo Donald Trump anunciou um tarifaço sobre produtos brasileiros, cassou vistos de autoridades e impôs sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo Washington, o Brasil estaria perseguindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu em processo por tentativa de golpe de Estado. Nesse cenário de atritos crescentes, o pouso de uma aeronave ligada a operações de inteligência sem qualquer justificativa oficial acende dúvidas sobre soberania e transparência.

A movimentação repercutiu de imediato no meio político. A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) anunciou que vai protocolar ofícios para obter esclarecimentos sobre a missão do voo. “Um avião da CIA pousou no aeroporto de Porto Alegre-RS e, até agora, nenhuma explicação oficial foi dada pelas autoridades brasileiras ou norte-americanas. A aeronave, apelidada de ‘Gatekeeper’, já foi utilizada em operações sigilosas e crises internacionais pelo mundo. Não aceitaremos esse silêncio! A presença de uma aeronave estrangeira, vinculada a serviços de inteligência, em solo brasileiro precisa ser esclarecida imediatamente. Vamos oficiar a ANAC, o Ministério da Defesa e demais órgãos competentes para exigir transparência e responsabilidade. O Brasil não pode ser tratado como quintal de interesses estrangeiros”, escreveu a parlamentar em suas redes sociais.

O que pode estar por trás da operação secreta dos EUA no Brasil

A passagem do Boeing C-32B “Gatekeeper” por Porto Alegre e São Paulo sem explicações oficiais levanta diferentes hipóteses entre diplomatas, militares e especialistas em relações internacionais.

  1. Operação de inteligência
    A versão mais comentada nos bastidores é a de que o avião tenha trazido ou recolhido agentes da CIA em missão no Brasil. A ausência de insígnias e a rota discreta são compatíveis com deslocamentos de equipes de inteligência em cenários sensíveis, sobretudo em países onde os EUA mantêm interesse político direto.
  2. Pressão política contra o governo Lula
    O pouso ocorre em meio ao acirramento das tensões bilaterais após o tarifaço, sanções a autoridades brasileiras e críticas à condução do processo contra Jair Bolsonaro. Nesse contexto, a presença de uma aeronave associada à CIA em solo nacional pode ser interpretada como uma mensagem velada de poder do governo Trump, em clara demonstração de alcance estratégico.
  3. Transporte diplomático sigiloso
    Outra possibilidade é que a aeronave tenha sido usada para transportar diplomatas ou negociadores norte-americanos em tratativas não divulgadas. O C-32B é frequentemente utilizado em missões que exigem comunicação segura e autonomia logística, o que se encaixa em movimentações diplomáticas de caráter reservado.
  4. Operação regional ligada à Venezuela
    O sobrevoo também pode estar conectado ao cenário mais amplo no Caribe e na América do Sul. Com a escalada da crise na Venezuela e a mobilização militar de Maduro, o voo pode fazer parte de um planejamento de contingência norte-americano, reforçando a presença na região.

Independentemente da explicação oficial, o episódio expõe uma fragilidade diplomática: até agora, nem o governo brasileiro nem os EUA esclareceram a missão, alimentando especulações e aumentando a percepção de que o Brasil se encontra vulnerável a interferências externas em um momento de instabilidade geopolítica.