O ex-presidente da Bolívia Jorge “Tuto” Quiroga (Aliança Livre, centro-direita), 65 anos, candidato no 2º turno das eleições presidenciais, afirmou que pretende combater o narcotráfico em cooperação com o Brasil, criticou o acordo que vem sendo negociado entre a UE (União Europeia) e o Mercosul e elogiou o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, publicada na 3ª feira (19.ago.2025), Quiroga disse que o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho atuam na Bolívia.
“Estamos exportando mais cocaína por meio do Brasil do que gás. Isso é preocupante”, afirmou. “Eu quero fazer o 1º acordo com a PF [Polícia Federal] brasileira para que tenhamos escritórios [do órgão] aqui na Bolívia, para cooperar com informação e logística”, disse.
Quiroga declarou que vê o Brasil como líder da região “pelo tamanho e pela dimensão do impacto que faz sentir nos outros países”, mas que sente que, “muitas vezes”, o país “abdicou desse papel, como no caso da Venezuela”, governada por Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela, esquerda).
O candidato disse que será amigo do Brasil caso eleito e classificou Fernando Henrique Cardoso como o “maior sul-americano da história da democracia na região”.
Quiroga afirmou que o Mercosul o interessa “até certo ponto”. Disse que pensa em medidas como liberação de viagens sem passaporte, validação de títulos universitários e criação de bolsas de intercâmbio, mas sem “subir nenhum imposto”.
Ele declarou que pretende fechar acordos de livre comércio com países da Ásia. Criticou o tratado entre o Mercosul e a União Europeia.
“Esse acordo da União Europeia com o Mercosul é uma ilusão, mais de 25 anos negociando. Não creio que dará frutos tão cedo. Por outro lado, não gostaria de vivenciar um protecionismo brasileiro com relação a produção do meu país”, disse.
Segundo Quiroga, é preciso abrir mercados: os Estados Unidos para empresas de manufaturados e têxteis, e a Europa para a castanha amazônica.
“Voltar a trazer investimentos, acordos, começar tratados de livre comércio com outros países, estabilizar a economia, parar a inflação, abrir-se ao mundo”, afirmou.
Ele criticou a gestão do ex-presidente boliviano Evo Morales, que governou o país de 2006 a 2019.
“Evo Morales e seus 20 anos de MAS [Movimento ao Socialismo] tiveram sorte no começo por causa do ‘boom’ das commodities. Bastava que Evo abrisse duas válvulas de gás e a ele chegavam 23% do PIB [Produto Interno Bruto] em exportações anuais. Eles se atrapalharam com o que era necessário para melhorar os gasodutos e isso nos trouxe a má situação financeira que temos hoje”, declarou.
O 1º turno da eleição presidencial realizada no domingo (17.ago.2025) terminou sem definição. Nenhum candidato alcançou os 50% necessários para vencer em 1ª votação, nem os 40% com 10 pontos de vantagem sobre o 2º colocado. O centrista Rodrigo Paz (Partido Democrata Cristão), 57 anos, e Quiroga disputarão o 2º turno em 19 de outubro.
Jorge Quiroga
Jorge “Tuto” Quiroga, 65 anos, nasceu em Cochabamba e é formado em engenharia industrial. Foi presidente interino da Bolívia (2001-2002) depois de servir como vice-presidente de 1997 a 2001, no governo de Hugo Banzer.
Candidatou-se anteriormente nas eleições de 2005, 2014 e tentou em 2020, mas retirou sua candidatura pouco antes do pleito. Defende um liberalismo conservador, redução do deficit fiscal, privatização de empresas públicas deficitárias, livre comércio com os Estados Unidos e a China. Entre suas propostas de campanha, estão a eliminação de impostos sobre os dividendos e a criação de 750 mil empregos durante o mandato de 5 anos.
Rodrigo Paz
Rodrigo Paz Pereira é senador e ex-prefeito de Tarija. Filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993), construiu sua carreira política desde o início dos anos 2000. É formado em relações internacionais com especialização em Economia e concluiu uma maestria em gestão política na American University, em Washington D.C.
Sua campanha defende um modelo de “capitalismo para todos”, com foco na formalização da economia, combate à corrupção e reformas institucionais para limitar a reeleição e fortalecer a Justiça.