Cade suspende julgamento da fusão entre Marfrig e BRF

O julgamento sobre a fusão da Marfrig com a BRF no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) foi suspenso nesta 4ª feira (20.ago.2025) depois de um pedido de vistas (mais tempo para análise) do conselheiro Carlos Jacques Vieira Gomes. A decisão, que daria o aval concorrencial para a criação de uma das maiores empresas de alimentos do mundo, foi adiada. Ainda não há data para ser retomada.

A interrupção se deu logo depois de o relator do caso, o presidente do Cade, Gustavo Augusto, apresentar seu voto. Ele se manifestou favorável à aprovação da operação sem qualquer tipo de restrição, por entender que a união não causa prejuízos à livre concorrência.

Durante a apresentação de seu voto, o relator analisou e rebateu os questionamentos feitos pela Minerva S.A., concorrente da Marfrig, que alegava riscos de concentração no setor de carne bovina. Logo depois da conclusão do voto do relator, um dos integrantes do colegiado pediu mais tempo para analisar o processo e suspendeu a deliberação final.

Com o pedido, a fusão entre Marfrig e BRF ganha mais um capítulo de incerteza. Além da pendência no Cade, as companhias ainda precisam resolver os entraves com acionistas minoritários na Justiça e na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que recentemente também adiou a assembleia que votaria a operação.

ENTENDA O CASO

A decisão do Cade sobre a fusão entre Marfrig e BRF é um capítulo crucial em uma das mais complexas negociações do mundo corporativo brasileiro. Entenda os principais pontos que levaram a este julgamento.

O que é a fusão?

  • A proposta estabelece a incorporação total da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, pela Marfrig, gigante do setor de carne bovina. A Marfrig já é a maior acionista da BRF, com 50,5% das ações;
  • Se aprovado, o negócio cria a MBRF Global Foods Company, uma das maiores empresas de alimentos do mundo. Pelo acordo, cada ação da BRF seria trocada por 0,8521 ação da Marfrig.

Por que a operação foi analisada pelo Cade?

  • Por lei, toda grande fusão ou aquisição precisa do aval do Cade, o órgão antitruste do Brasil;
  • O objetivo da análise é assegurar que a operação não prejudique a livre concorrência, o que poderia levar a um aumento de preços, menor qualidade ou redução de opções para o consumidor.

Principais entraves

  • no Cade – a concorrente Minerva questionou a fusão e alega que a união traria uma concentração excessiva e prejudicial ao mercado de carne bovina. A empresa também apontou um potencial conflito de interesses, já que o fundo soberano saudita Salic é acionista tanto da Minerva quanto da Marfrig;
  • fora do Cade – acionistas minoritários da BRF, como a Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil), questionam os termos financeiros do acordo. Alegam que a relação de troca de ações gera prejuízos. Essa disputa já levou a CVM a adiar por duas vezes a assembleia que votaria a fusão.

Qual o peso da decisão do Cade?

  • o veredito do Cade é o principal obstáculo regulatório para a fusão;
  • uma aprovação remove a barreira concorrencial, enquanto uma reprovação pode encerrar a negociação na sua forma atual;
  • mesmo com um eventual aval do Cade, as empresas ainda precisam resolver as disputas com os acionistas e obter a aprovação final na assembleia para que o negócio seja concluído.