PF: Eduardo pressionou Bolsonaro a agir para manter apoio de Trump

Mensagens analisadas pela PF (Polícia Federal) mostram que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) pressionou o pai, ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para se apressar em manifestações de apoio a Donald Trump (Partido Republicano), presidente dos Estados Unidos.

Nas conversas, que constam no relatório final enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta 4ª feira (20.ago.2025), Eduardo demonstra preocupação de que Trump “vire as costas” ao Brasil e “passe para a próxima” caso não recebesse um afago público de Bolsonaro.

Leia os trechos do relatório da PF: 

  • “Opinião pública vai entender e você tem tempo para reverter, se for o caso. Você não vai ter tempo de reverter se o cara daqui virar as costas para você. Aqui é tudo muito melindroso, qualquer coisinha afeta”.

  • “Na situação de hoje, você nem precisa se preocupar com cadeia, você não será preso. Mas tenho receio que, por aqui, as coisas mudem. Mesmo dentro da Casa Branca tem gente falando para o 01: ‘ok, Brasil já foi. Vamos para a próxima’”.

  • Eduardo reforçou a necessidade de Jair Bolsonaro publicar mensagem de agradecimento a Trump: “Eu quero postergar este bom momento de agora, mas se o nosso cara vai encontrar o 01 sem nenhum tweet seu, te adianto que isto não será bem recebido”.

Segundo a Polícia Federal, Bolsonaro acatou a sugestão do filho. As mensagens constam em celular apreendido pela corporação, no âmbito do inquérito que levou ao indiciamento de ambos por coação de autoridades na ação penal em que o ex-presidente é réu por tentativa de golpe de Estado.

O relatório detalha ainda que Bolsonaro buscou orientação de Martin de Luca, advogado da Trump Media e da plataforma Rumble, para elaborar publicações nas redes sociais sobre o “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos ao Brasil.

Segundo o relatório:

  • Em 13 de julho de 2025, Bolsonaro enviou a Martin de Luca uma publicação que havia feito na plataforma X (ex-Twitter) sobre a imposição de tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos EUA.

  • Em áudio, o ex-presidente pediu explicitamente orientação sobre como comunicar a questão, solicitando uma “nota pequena” para publicar em suas mídias e que chegasse de volta aos EUA:

    • Jair Bolsonaro: “Martin, peço que você me oriente também, me desculpa aqui tá, minha modéstia, como proceder. Eu fiz uma nota, acho que eu te mandei. Tá certo? Com quatro pequenos parágrafos, boa, elogiando o Trump, falando que a questão de liberdade tá muito acima da questão econômica. A perseguição a meu nome também, coisa que me sinto muito… pô fiquei muito feliz com o Trump, muita gratidão a ele. Me orienta uma nota pequena da tua parte, que eu possa fazer aqui, botar nas minhas mídias, pra chegar a vocês de volta aí. Obrigado aí. Valeu, Martin.”

  • Martin de Luca respondeu que enviaria a nota ainda no mesmo dia, resumindo como seria possível “melhorar a comunicação em relação ao tarifaço”.

A PF interpreta essa solicitação como demonstração de que Bolsonaro atuava alinhado a interesses de agentes estrangeiros, ajustando sua comunicação ao assentimento prévio de plataformas e grupos externos. O relatório enfatiza que os diálogos entre Bolsonaro e De Luca evidenciam ações previamente coordenadas, com o objetivo de divulgar narrativas planejadas e questionar a legitimidade do Judiciário brasileiro.

ENTENDA

A PF indiciou nesta 4ª feira (20.ago) Bolsonaro e Eduardo por coação no curso do processo na investigação sobre a tentativa de golpe de Estado, na qual Bolsonaro é o principal réu. O indiciamento se dá no inquérito que apura a atuação de Eduardo nos Estados Unidos, onde ele teria articulado medidas de pressão e sanções contra autoridades brasileiras.

A investigação foi aberta em maio por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). O relatório final da PF conclui que Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro, com a participação do jornalista Paulo Figueiredo e do pastor Silas Lima Malafaia, praticaram condutas para interferir na Ação Penal 2668, que apura ações do grupo com o objetivo de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo a PF, as ações de Eduardo e dos demais investigados têm como alvo direto instituições democráticas, principalmente o STF e o Congresso Nacional, para submetê-las a interesses pessoais. O relatório detalha que o grupo buscou coagir integrantes do Poder Judiciário e, mais recentemente, da Câmara e do Senado, mirando influenciar decisões em benefício próprio.

O relatório foi encaminhado a Moraes e seguirá para a PGR (Procuradoria Geral da República). Caberá ao procurador-geral, Paulo Gonet, decidir se apresenta denúncia, requisita novas diligências ou solicita o arquivamento do caso.