A Polícia Federal cumpriu, nesta quarta-feira (20), mandados de busca e apreensão contra o pastor Silas Malafaia, que teve celulares confiscados e está proibido de deixar o país. A medida, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), integra o inquérito que investiga coação no curso da ação penal em que Jair Bolsonaro é réu por tentativa de golpe de Estado.
Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), Malafaia atuava como “orientador e auxiliar” de Bolsonaro e de seu filho Eduardo Bolsonaro, incentivando ações para obstruir e pressionar autoridades do processo. Em parecer, o procurador-geral Paulo Gonet afirmou que o líder religioso estava “associado no propósito comum de interferir ilicitamente” no julgamento.
Um dos indícios centrais é um áudio obtido pela PF, no qual Malafaia orienta Bolsonaro a gravar vídeo contra o ministro Alexandre de Moraes, acusando-o de censura e ilegalidades, e sugere que o material fosse enviado ao ex-presidente norte-americano Donald Trump. O objetivo, segundo o pastor, seria mobilizar pressão internacional sobre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, sob o argumento de que decisões do STF atingiriam também empresas e cidadãos americanos.
Durante a abordagem no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, após retornar de Portugal, Malafaia criticou as medidas da PF e se disse vítima de perseguição. “Sou um líder religioso, não sou bandido. Só vão me calar se me prenderem”, declarou. O pastor afirmou ainda ter dezenas de vídeos com críticas a Moraes e voltou a comparar o Brasil a regimes autoritários da América Latina.
Para a PF, no entanto, a atuação de Malafaia foi “consciente e coordenada” para difundir narrativas falsas e coagir ministros do STF, numa tentativa de influenciar o desfecho do processo que investiga a tentativa de golpe de Estado.
O discurso de Malafaia se ancora em um argumento recorrente da extrema direita: o Brasil estaria “caminhando para a venezuelização”, e só uma ofensiva global poderia frear a escalada. A PF, no entanto, leu o movimento de outra forma: tentativa consciente e coordenada de intimidar ministros do STF e sabotar um processo judicial em curso.
O que fica evidente é que Malafaia não agia apenas como pastor indignado, mas como estrategista de guerra narrativa — incentivando Bolsonaro a reagir, mobilizar sua base digital e até buscar respaldo em Washington. A religiosidade, nesse caso, se mistura com pragmatismo político: transformar fiéis em militantes e o púlpito em trincheira.
Enquanto isso, o pastor reage como quem assume o papel de mártir. “Só vão me calar se me prenderem”, disse, após ter os celulares apreendidos e ser proibido de deixar o país. A fala dialoga diretamente com sua base: a de que está sendo perseguido não por crimes, mas por professar fé e opinião.
Na prática, o caso Malafaia expõe como o bolsonarismo continua tentando jogar em várias frentes — das ruas às redes, do altar aos bastidores diplomáticos. Mas também revela que o STF e a PF estão atentos a cada tentativa de transformar a retórica em ação concreta. A linha entre liberdade de expressão e coação judicial nunca esteve tão no centro do debate.
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