Relatório da PF mostra mensagens com advogado de Trump revelam subordinação de Bolsonaro

Ex-presidente pediu orientação para redigir nota elogiando tarifaço dos EUA e alinhou ataques ao Judiciário com representante de Trump Media

Por Sandra Venancio – Foto Allan Santos/PR

A Polícia Federal revelou nesta quarta-feira (20) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) manteve diálogos constantes com Martin de Luca, advogado ligado às empresas Rumble e Trump Media & Technology, sobre ações políticas do ex-presidente norte-americano Donald Trump contra o Brasil. Segundo relatório obtido pelo STF, as mensagens mostram que Bolsonaro atuava “de forma subordinada às pretensões de grupo estrangeiro”, buscando apoio para suas causas pessoais e políticas.

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Como prova da subordinação, a PF destacou uma mensagem de áudio em que Bolsonaro pede a Luca ajuda na elaboração de uma nota para as redes sociais após o anúncio do tarifaço de 50% imposto pelos EUA contra produtos brasileiros. O ex-presidente solicitou que o texto contivesse elogios a Trump e a frase de que “a liberdade está muito acima da questão econômica”.

Além desse episódio, as conversas incluem a troca de links de entrevistas e artigos na mídia com ataques diretos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao ministro Alexandre de Moraes, relator dos processos que investigam Bolsonaro. De acordo com os investigadores, o conteúdo reforça a suspeita de que o ex-presidente tentou articular ingerência externa em assuntos internos do Brasil, colocando-se sob influência de interesses estrangeiros.

Para a PF, os diálogos evidenciam não apenas a tentativa de blindagem política e jurídica por meio da relação com aliados internacionais, mas também a adoção de um tom de alinhamento incondicional às diretrizes políticas de Trump. O relatório já foi encaminhado ao ministro Moraes, que deve decidir sobre a ampliação das medidas cautelares contra Bolsonaro.

Impacto diplomático e consequências

As mensagens trocadas entre Jair Bolsonaro e Martin de Luca, advogado de Trump Media & Technology, reforçam a percepção de subordinação de um ex-presidente brasileiro a interesses estrangeiros, com possíveis repercussões diplomáticas e políticas:

  • Crise diplomática com os EUA: O alinhamento explícito de Bolsonaro às pretensões de Trump agrava a tensão já existente por conta do tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, investigação comercial contra o Pix e sanções sob a Lei Magnitsky. A atuação do ex-presidente pode ser interpretada como tentativa de interferir em políticas soberanas do Brasil com influência externa.
  • Risco de isolamento internacional: Outros países e instituições multilaterais podem encarar o episódio como um precedente de ingerência externa em decisões políticas e judiciais, prejudicando a imagem do Brasil no exterior.
  • Pressão sobre autoridades brasileiras: O relatório da PF aponta que as mensagens continham ataques diretos ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes, sugerindo tentativa de manipulação de atores internacionais para fins pessoais e de blindagem judicial.
  • Ampliação de medidas cautelares: No âmbito interno, o STF pode endurecer restrições contra Bolsonaro, como monitoramento mais rigoroso, tornozeleira eletrônica ou restrições a contatos internacionais, considerando o risco de subordinação a interesses estrangeiros.
  • Precedente para responsabilização internacional: Especialistas em direito internacional avaliam que o episódio pode abrir espaço para ações jurídicas futuras envolvendo cooperação internacional, caso se comprove que Bolsonaro tentou obter vantagens políticas ou financeiras com apoio externo.

O conjunto das evidências consolida a narrativa de que o ex-presidente atuou não apenas para se proteger de processos internos, mas também para criar vínculos estratégicos com aliados estrangeiros, elevando o caso de um conflito jurídico nacional a uma questão com implicações geopolíticas.