O IPC (Integrated Food Security Phase Classification), órgão vinculado à ONU (Organização das Nações Unidas), confirmou pela 1ª vez a existência de fome na Cidade de Gaza, em relatório divulgado nesta 5ª feira (22.ago.2025). Eis a íntegra (PDF — 3 MB).
A análise classifica a situação como “catastrófica” e identifica mais de 500 mil palestinos sob risco imediato de morte por desnutrição. O documento diz que a crise alimentar, descrita como “provocada por ação humana”, pode ser revertida mediante acesso imediato e irrestrito à ajuda humanitária.
Projeções do relatório indicam expansão da fome para as regiões de Deir al-Balah e Khan Younis até 30.set.2025, potencialmente elevando para 640 mil o número de afetados em condição crítica.
António Guterres, secretário-geral da ONU, caracterizou a situação como “desastre provocado pelo homem” e “fracasso da humanidade”. Ele disse que Israel tem obrigação sob o direito internacional de garantir suprimentos básicos à população civil.
O estudo baseou-se em metodologia desenvolvida por 50 especialistas de 19 organizações, que utilizaram entrevistas telefônicas, medições de circunferência de braços de crianças e registros de mortalidade disponíveis.
Agências da ONU identificaram mais de 12 mil crianças com desnutrição aguda em julho, sendo 25% em estado grave. O Ministério da Saúde sob administração do Hamas contabiliza 271 mortes por desnutrição desde outubro de 2023, incluindo 112 crianças.
O governo israelense contestou o relatório, afirmando que o IPC utiliza “dados parciais e tendenciosos” fornecidos pelo Hamas. Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores de Israel classificou o documento como “fabricado” e afirmou ter enviado aproximadamente 100 mil caminhões com ajuda humanitária desde o início do conflito.
O relatório foi divulgado enquanto Israel finaliza preparativos para nova incursão militar de grande escala na Cidade de Gaza, aprovada esta semana pelo gabinete de guerra. A operação determina a evacuação de 1 milhão de pessoas antes do avanço terrestre, o que poderá intensificar a crise humanitária, segundo organizações internacionais.
O IPC define tecnicamente a fome como cenário onde ao menos 20% das famílias enfrentam extrema escassez alimentar, com desnutrição aguda generalizada e taxas de mortalidade entre 2 e 4 pessoas por 10 mil habitantes diariamente.