Bloqueio de R$ 1,3 bilhão tenta estrangular ações criminosas do PCC

O avanço das organizações criminosas no Brasil deixou de ser um problema restrito às periferias ou aos presídios. Essas facções infiltraram-se em negócios milionários, alcançaram setores da política, penetraram em áreas do Executivo e até rondam decisões do Judiciário. O enfrentamento a essa teia de poder ilícito tornou-se crucial para conter a escalada da violência no país.

O alerta já não é apenas interno. O governo dos Estados Unidos, sob influência direta do ex-presidente Donald Trump, acompanha de perto a movimentação do crime organizado brasileiro e prepara ações de cooperação internacional com foco no desmantelamento de cartéis de drogas e redes de enriquecimento ilícito que se utilizam do território nacional.

Nesse cenário, a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) intensificaram, desde fevereiro, operações de grande porte para cortar as fontes de financiamento do Primeiro Comando da Capital (PCC), principal facção criminosa em atuação no país.

Operação Narco Vela: o golpe bilionário

Em 29 de abril, a PF deflagrou a operação Narco Vela, com o bloqueio judicial de até R$ 1,32 bilhão e dezenas de mandados cumpridos em São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Pará e Santa Catarina. A ação envolveu mais de 300 policiais federais e apoio de 50 policiais militares, com a execução de quatro prisões preventivas, 31 temporárias e 62 mandados de busca.

A investigação começou após alerta de autoridades norte-americanas sobre a apreensão de 3 toneladas de cocaína em um veleiro brasileiro próximo ao continente africano. As apurações mostraram que o grupo utilizava embarcações de longo curso, barcos pesqueiros e navios cargueiros, além de equipamentos de rastreamento por satélite, para transportar drogas à Europa e à África.

O caso contou com a participação da DEA (agência antidrogas dos EUA), da Marinha americana, da Guarda Civil espanhola e da Marinha francesa. Em 27 de junho, a 5ª Vara Federal de Santos decretou a prisão preventiva de 30 investigados, consolidando a etapa judicial da operação. Agora, segue a análise de bens, contas e possíveis conexões com estruturas de lavagem de dinheiro.

Outras frentes de combate

Em 25 de fevereiro, a operação Hydra mirou empresas de tecnologia financeira usadas para ocultação de valores do PCC. Executivos e instituições que operavam transações em múltiplos países foram alvos de mandados.

Já em 21 de agosto, a operação Fruto Envenenado, da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado, bloqueou até R$ 2,7 milhões em bens de Jaqueline Maria Afonso Amaral, ex-companheira de Júlio César Guedes de Moraes, o “Julinho Carambola”, dirigente da facção. Ela é suspeita de ter movimentado quase R$ 3 milhões entre 2018 e 2022, utilizando contas de familiares e amigos para encobrir os valores. Foram apreendidos celulares, munições e veículos. A defesa nega participação criminosa e afirma que ela mantém atividades lícitas.

O papel dos “facilitadores”

Investigações paralelas em 2025 identificaram uma rede de prestadores de serviço classificados pelos investigadores como “facilitadores”. Entre eles está Willian Barile Agati, chamado de “concierge” por prover suporte logístico e financeiro a integrantes do PCC. Preso no início do ano na operação Mafiusi, Agati foi indiciado por tráfico internacional, mas sua defesa alega que é empresário regular.

Todas as operações correm sob sigilo judicial. Os alvos poderão responder por tráfico internacional de drogas, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Para os investigadores, atingir a rede de financiadores, operadores logísticos e empresários que sustentam o PCC é o único caminho para enfraquecer de fato a facção.

Enquanto isso, cresce a expectativa sobre os desdobramentos da cooperação com os Estados Unidos, que veem no Brasil um território-chave no fluxo global de cocaína. O combate às facções já não é mais apenas um desafio nacional — tornou-se uma questão estratégica de segurança internacional.


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