Escândalo de corrupção na Argentina ligam irmã de Javier Milei em contratos de medicamentos

Gravações revelam suposta participação de Karina Milei e de seu braço direito em rede de propinas; governo argentino enfrenta maior crise desde a posse

Por Sandra Venancio – RS/via Fotos Publicas

O presidente da Argentina, Javier Milei, enfrenta sua crise política mais explosiva desde a posse. Gravações reveladas pelo jornal La Nación e reproduzidas pelo O Globo colocam no centro do escândalo sua irmã e principal articuladora política, Karina Milei, apontada como destinatária de propinas em contratos da Agência Nacional para Pessoas com Deficiência (Andis).

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Os áudios, atribuídos ao ex-chefe da Andis, Diego Spagnuolo, detalham um sistema de cobrança de até 8% em contratos de medicamentos para pensionistas. O operador central seria Eduardo “Lule” Menem, braço direito de Karina. Em um dos trechos mais comprometedores, a irmã do presidente é citada como beneficiária de 3% das propinas.

Máquina de contar dinheiro em casa e discurso de austeridade

Spagnuolo, advogado sem experiência na área social, comandou a Andis por mais de um ano. Conhecido por frases duras como “não há dinheiro” diante de pedidos de ajuda, mantinha em sua residência uma máquina de contar cédulas, segundo as investigações.

As gravações sugerem que sua proximidade com a família Milei foi usada para organizar a rede de propinas que envolvia empresários da Suizo Argentina, drogaria citada nos áudios, e o advogado Daniel Garbellini, acusado de atuar como arrecadador.

O promotor Franco Picardi já apreendeu celulares, computadores e documentos de todos os envolvidos. Fontes da Casa Rosada admitem preocupação com a quantidade de materiais ainda não revelados — áudios e vídeos que podem ampliar a crise.

Silêncio estratégico e risco eleitoral

Karina Milei, que já havia reagido com indignação a acusações sobre o uso de joias de luxo, agora mantém silêncio absoluto. Javier Milei, por sua vez, tenta minimizar os danos, repetindo a estratégia usada no caso da criptomoeda $LIBRA. Mas a situação atual é muito mais devastadora: atinge diretamente políticas sociais sensíveis e desmonta o discurso libertário contra a “casta” política.

Com eleições provinciais em Buenos Aires nos próximos dias e legislativas nacionais em apenas dois meses, o impacto pode ser eleitoralmente fatal. “O risco é que Milei seja visto como aquilo que mais prometeu combater: um presidente cercado de corruptos”, avalia um assessor ouvido pelo La Nación.

Bastidores do escândalo Spagnuolo

Diego Spagnuolo – Ex-chefe da Andis, advogado sem experiência na área, ligado diretamente ao círculo de confiança de Milei.

Máquina de contar dinheiro – Achada em sua residência, reforça suspeitas sobre manuseio de propinas.

Eduardo “Lule” Menem – Operador do esquema, braço direito de Karina Milei, citado como coordenador da arrecadação.

Karina Milei – Irmã do presidente e sua principal conselheira política, aparece nos áudios como destinatária de 3% das propinas.

Suizo Argentina – Drogaria mencionada nas gravações como beneficiária de contratos suspeitos.

Daniel Garbellini – Advogado apontado como arrecadador do esquema em nome de Lule Menem.

Promotor Franco Picardi – Conduz a investigação; já apreendeu celulares, computadores e documentos de envolvidos.