Funcionários da ONU pedem que Türk declare genocídio em Gaza

Centenas de funcionários da ONU (Organização das Nações Unidas) pediram ao alto comissário para Direitos Humanos, Volker Türk, que ele passe a usar o termo “genocídio” para descrever a guerra em Gaza, segundo o documento ao qual a agência Reuters teve acesso.

Em uma carta enviada na 4ª feira (27.ago.2025), os servidores da ONU disseram considerar que os critérios legais para genocídio na guerra de quase 2 anos entre Israel e o grupo Hamas em Gaza foram cumpridos, citando escala, escopo e natureza das violações ali documentadas.

“O ACNUDH [Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos] tem a forte responsabilidade legal e moral de denunciar atos de genocídio”, afirma a carta assinada pelo Escritório do ACNUDH em nome de mais de 500 funcionários, que insta Türk a assumir uma “posição clara e pública”.

“Deixar de denunciar um genocídio em curso mina a credibilidade da ONU e do próprio sistema de direitos humanos”, acrescenta o documento.

Segundo a Reuters, a carta também cita como alerta o fracasso moral do organismo internacional por não ter feito mais para impedir o genocídio de Ruanda em 1994, que matou mais de 1 milhão de pessoas. Türk conta com o apoio total e incondicional do secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, acrescentando: “A rotulagem de um evento como genocídio cabe a uma autoridade legal competente”.

Guterres usou a rede social X, na 4ª feira (28.ago), para comentar a intenção de Israel de ocupar a Cidade de Gaza: “Centenas de milhares de civis seriam forçados a fugir novamente, colocando suas famílias em perigo ainda maior. Isso precisa acabar. Não há solução militar para o conflito”, disse.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel disse à Reuters que não vai comentar o conteúdo da carta dos funcionários da ONU, “mesmo que seja falso, infundado e cego por ódio obsessivo contra Israel”. Israel nega acusações de genocídio em Gaza, alegando legítima defesa contra o Hamas.

Alguns grupos de direitos humanos, como a Anistia Internacional, já acusaram Israel de cometer genocídio. A relatora especial da ONU, Francesca Albanese, também usou o termo, mas não a própria ONU. Autoridades da ONU já afirmaram que cabe aos tribunais internacionais determinar o genocídio.

Em 29 de dezembro de 2023, a África do Sul apresentou um pedido contra Israel alegando o descumprimento das suas obrigações nos termos da Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio em relação aos palestinos na Faixa de Gaza.

A convenção, criada em 1948 em resposta ao Holocausto na 2ª Guerra Mundial, caracteriza genocídio como atos “cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”.

O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 matou 1.219 pessoas em Israel, a maioria civis, e resultou em 251 reféns, segundo dados israelenses. A ofensiva israelense já deixou mais de 62.000 mortos em Gaza, segundo o ministério da Saúde do enclave, número considerado confiável pela ONU.