Lewandowski diz que objetivo é sufocar financeiramente as organizações criminosas após operações que revelaram esquemas bilionários de lavagem e fraudes
Por Sandra Venancio
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou nesta quinta-feira (28) que o governo federal vai avançar em todos os níveis das organizações criminosas, desde os operadores de base até a elite financeira que sustenta suas atividades. A declaração foi dada ao programa A Voz do Brasil, destacando que as operações Quasar, Tank e Carbono Oculto representam apenas o início de uma estratégia mais ampla de combate ao crime organizado.
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“Descobrimos a ponta desse iceberg e vamos, agora, descobrir a base, quem está na base”, disse Lewandowski, ressaltando que a meta central é sufocar financeiramente o crime organizado e desarticular sua rede de apoio empresarial e financeira.
Operações atingem o coração do crime financeiro
As três operações revelaram esquemas bilionários:
- Quasar: desarticulou fundos de investimento fraudulentos usados para movimentações ilícitas.
- Tank: revelou esquema de R$ 23 bilhões no Paraná envolvendo postos de combustíveis e empresas de fachada.
- Carbono Oculto: expôs sonegação e lavagem bilionária por meio de importadoras, distribuidoras e fintechs atuando como bancos paralelos.
Entre os bens apreendidos ou bloqueados estão 141 veículos, duas embarcações, 192 imóveis, 1.600 caminhões, seis fazendas avaliadas em R$ 31 milhões, uma residência de R$ 13 milhões, 21 fundos financeiros e R$ 3,2 bilhões em valores. Além disso, foram cumpridos 14 mandados de prisão e centenas de buscas e apreensões.
Estratégia de sufocamento financeiro
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou que a ação é mais eficaz que a prisão isolada de líderes:
“Se você prende uma pessoa, mas o dinheiro fica à disposição do crime, essa pessoa presa vai ser substituída por outra. O que fica preso geralmente é o personagem menos importante da estrutura criminosa.”
Segundo Haddad, as operações são exemplares por atingir o andar de cima do sistema, mirando os núcleos financeiros e de comando das facções.
Inteligência e integração entre órgãos
Lewandowski ressaltou a criação de um núcleo de combate ao crime organizado para integrar informações de diferentes órgãos federais e estaduais. A ação envolveu Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Penal Federal, Receita Federal, Cade, Ministério de Minas e Energia e Coaf, além de ministérios públicos de dez estados e forças policiais locais.
Ele também defendeu a PEC da Segurança, que prevê cooperação permanente entre forças federais, estaduais e municipais, afirmando:
“O crime organizado não é mais local, mas nacional e até transnacional. Só o governo federal pode fornecer as diretrizes para uma cooperação ampla ao nível federativo.”
Um modelo de combate integrado
As operações recentes mostram que o combate às facções criminosas no Brasil exige ação coordenada entre inteligência, fiscalização e repressão. O foco não é apenas prender líderes, mas interromper fluxos financeiros, desarticular empresas de fachada e blindar mecanismos legais que hoje servem como porta de entrada para lavagem de dinheiro.
Especialistas apontam que esse modelo é crucial para enfrentar facções como o PCC, que não apenas operam no tráfico de drogas, mas também se infiltram no mercado financeiro, comércio de combustíveis e outros setores estratégicos. Segundo Lewandowski, só com integração nacional e atuação conjunta com estados e municípios será possível desmantelar a estrutura que sustenta o crime organizado.