A Justiça Federal em Redenção decretou, neste sábado (30), a prisão preventiva dos dois tripulantes do avião que caiu na véspera em Santana do Araguaia, transportando mais de 400 quilos de pasta base de cocaína. A carga ilícita foi avaliada em aproximadamente R$ 80 milhões. O pedido partiu do Ministério Público Federal (MPF) e foi acatado pelo juízo após audiência de custódia.
Os dois investigados foram detidos pela Polícia Federal (PF) ainda na noite de sexta-feira (29), cerca de 40 quilômetros do local onde a aeronave foi abandonada. Atualmente, eles estão recolhidos na Penitenciária Pública de Redenção.
Durante a audiência, o MPF sustentou que a soltura dos acusados representaria risco à ordem pública, em razão da gravidade do crime e do contexto em que ocorreu. A Justiça acolheu o argumento, destacando que o volume da droga apreendida sugere a participação da dupla em uma organização criminosa estruturada, além de existirem circunstâncias agravantes individuais.
Um dos presos, de nacionalidade boliviana, não apresentou qualquer documento que possibilitasse sua correta identificação. Identificado como piloto, foi considerado de alto risco de fuga. O outro tripulante, brasileiro natural de Curitiba (PR), portava documentos falsos no momento da abordagem e possuía mandado de prisão em aberto.
Esse segundo acusado é foragido da Justiça Estadual de Santa Catarina, onde responde a diversas ações criminais, incluindo roubos e feminicídio. Já condenado a 42 anos de prisão, ele vivia em situação de clandestinidade.
Com os suspeitos, a PF apreendeu um revólver calibre .38 com 16 munições intactas, três celulares, dois aparelhos de geolocalização aeronáuticos, um rádio transmissor, cédulas bolivianas e uma identidade falsa.
A aeronave e a droga foram localizadas inicialmente pela Polícia Militar de Santana do Araguaia. O material foi encaminhado à delegacia da PF em Redenção. Ainda na sexta-feira, por determinação judicial e a pedido da PF, com concordância do MPF, toda a carga foi incinerada, em razão do alto risco de resgate por parte de criminosos.
Um inquérito policial já foi instaurado para apurar as circunstâncias do tráfico e identificar outros envolvidos. O caso tramita sob o Auto de Prisão em Flagrante nº 1004675-69.2025.4.01.3905, disponível para consulta processual.
Rota estratégica
É mais um capítulo da complexa rota do tráfico internacional de drogas que atravessa o Pará, usado como corredor estratégico devido à sua posição geográfica. A apreensão de mais de 400 quilos de pasta base de cocaína — avaliada em R$ 80 milhões — mostra o alto grau de organização das quadrilhas, que operam com logística sofisticada e pilotos estrangeiros.
Outro ponto grave é o perfil dos tripulantes: um piloto boliviano sem identificação e um brasileiro já condenado a 42 anos de prisão por crimes violentos, incluindo feminicídio. A presença de foragidos perigosos nesse tipo de operação reforça como o narcotráfico se conecta a outras práticas criminosas, servindo de refúgio e fonte de financiamento para criminosos de alta periculosidade.
A incineração imediata da droga, com autorização judicial, foi uma medida acertada. A manutenção de tamanha carga em depósitos representaria risco concreto de tentativas de resgate, colocando em perigo não só os agentes da lei, mas também a população local.
O caso exige investigações mais profundas. Se a aeronave transportava uma quantidade tão expressiva de droga, é razoável supor que ela seja parte de uma rede bem estruturada, com ramificações internacionais. O desdobramento das apurações poderá revelar conexões com cartéis e organizações criminosas que utilizam o Pará como rota estratégica.
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