Ministra do STF enquadrou advogado de general Paulo Sérgio, que admitiu tentativa de “demover” ex-presidente de adotar medidas de exceção
Sandra Venancio – Foto Gustavo Moreno/STF
O segundo dia de julgamento dos réus do chamado “núcleo crucial” da tentativa de golpe de Estado teve mais uma vez a ministra Cármen Lúcia como protagonista. Durante a sessão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quarta-feira (3), a magistrada emparedou o advogado Andrew Fernandes, defensor do general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ex-ministro da Defesa de Jair Bolsonaro, e obteve uma confissão indireta de que o ex-presidente de fato planejava um golpe.
>> Siga o canal do Jornal Local no WhatsApp
Ao longo de sua sustentação oral, Fernandes repetiu várias vezes que seu cliente teria atuado para “demover” Bolsonaro. Cármen Lúcia interrompeu e pediu esclarecimentos:
— “Vossa senhoria disse cinco vezes que o réu estava atuando para demover o presidente da República. Demover de quê? Porque até agora todo mundo diz que ninguém pensou nada…”, questionou a ministra.
Sem saída, o advogado respondeu:
— “Demover de adotar qualquer medida de exceção.”
A fala foi interpretada como reconhecimento, por parte da própria defesa, de que Bolsonaro articulava medidas golpistas.
Na tentativa de livrar o general, Fernandes alegou que Paulo Sérgio teria sido alvo de ataques de bolsonaristas justamente por resistir à intentona. Segundo ele, essa seria a “prova dos 9” de sua inocência:
— “Segundo a própria acusação, membros dessa organização criminosa estavam lutando para demover o general, retirar do cargo o general Paulo Sérgio, ministro da Defesa, e o comandante do Exército, general Freire Gomes. Tá provado nos autos. Então como é que ele fazia parte da organização criminosa?”, indagou.
O julgamento do núcleo militar acusado de conspirar contra o resultado das eleições de 2022 segue na Primeira Turma do STF, e a confissão extraída pela ministra deve pesar na análise sobre a responsabilização dos réus e de Bolsonaro no plano golpista.