Delegação da CNI foi surpreendida por deputado e comentarista ligados ao bolsonarismo em meio a negociações comerciais com os EUA
Sandra Venancio – Jornal Local – Foto: Augusto Coelho / CNI
A presença do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em Washington causou desconforto entre empresários brasileiros que participam de missão da Confederação Nacional da Indústria (CNI) nos Estados Unidos. O grupo, formado por cerca de 130 representantes do setor produtivo, havia organizado a viagem para tratar exclusivamente de negociações comerciais, especialmente tarifas impostas pelo governo Trump.
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Eduardo Bolsonaro e o comentarista político Paulo Figueiredo apareceram no hotel da comitiva e se reuniram pela manhã com um pequeno grupo de empresários. Segundo relatos, a situação foi vista como “estranhíssima” e gerou “super constrangimento” entre integrantes da delegação. Nenhum dos entrevistados defendeu a presença do parlamentar, que não fazia parte da missão oficial.
A Abipesca, entidade do setor de pesca citada informalmente como anfitriã, negou qualquer participação no encontro. Até a noite de ontem, os próprios empresários especulavam quem teria convidado Eduardo, sem respostas claras.
Nos bastidores, o receio era que a aproximação com o deputado contaminasse a pauta comercial com a agenda política. Eduardo e Figueiredo vêm defendendo junto ao ex-presidente Donald Trump a imposição de novas sanções ao Brasil, sob o argumento de que o processo judicial contra Jair Bolsonaro seria uma “caça às bruxas”.
“Não foi ele quem criou o problema? Agora vai aparecer aqui para vender solução?”, questionou um dos representantes industriais ouvido pela reportagem.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, afirmou que a missão foi desenhada justamente para blindar o discurso empresarial de interferências políticas. “A visita dos senadores [há algumas semanas] era política. Nós queríamos uma visita empresarial. Sei que a CNI não convidou [Eduardo], mas não sei se alguém convidou por relação pessoal”, disse Alban.
Apesar do esforço de blindagem, a questão política acabou dominando as conversas oficiais da comitiva com autoridades americanas. Os empresários foram recebidos no Departamento de Estado, no Departamento de Comércio e pelo Representante Comercial dos EUA, onde a pauta de confiança política no Brasil foi tratada como prioridade pelo governo norte-americano.