Multidão toma Praça da República em protesto contra Bolsonaro, Trump e ataques à soberania

No 7 de Setembro, movimentos sociais e centrais sindicais levam milhares às ruas de São Paulo para defender democracia, denunciar anistia e exigir justiça pelos crimes de 8 de janeiro

Por Sandra Venancio – Fotos Paulo Pinto/Agencia Brasil

Em pleno feriado da Independência, a Praça da República, em São Paulo, amanheceu tomada por milhares de militantes, bandeiras e faixas que transformaram o Sete de Setembro em ato político contra anistia, contra interferências externas e em defesa da democracia. Organizado por movimentos sociais e centrais sindicais, o protesto se espalhou por ruas e avenidas do centro, ecoando palavras de ordem pela soberania nacional, justiça social e punição aos golpistas de 8 de janeiro.

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As bandeiras do dia foram claras: fim da jornada de trabalho 6×1, isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, taxação progressiva sobre os mais ricos e repúdio à anistia defendida por aliados de Jair Bolsonaro. Os discursos também condenaram a política econômica de Donald Trump, referida como “tarifaço”, e a interferência dos Estados Unidos nos países da América Latina.

Gilmar Mauro, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), incendiou a multidão:
“Superamos uma pandemia e um governo neofascista, confrontamos um golpe militar e aqui estamos, na Praça da República, com altivez. Nossos movimentos não forjaram covardes, mas militantes sérios e engajados”, disse sob aplausos.

O deputado estadual Antônio Donato (PT) reforçou a denúncia contra as articulações pela anistia:
“Um novo golpe está sendo tramado, que é a anistia. O povo não quer anistia, e estamos mostrando isso hoje nas ruas”, afirmou à Agência Brasil.

Miguel Torres, presidente da Força Sindical, foi além e ligou a luta sindical à resistência contra pressões externas:
“Estamos aqui para reafirmar a luta contra a invasão de nosso território, a interferência estrangeira em nossa soberania e qualquer projeto de anistia em curso. É imperativo que estejamos vigilantes contra políticos que conspiram contra o Brasil”, declarou.

A mobilização também mirou o governador Tarcísio de Freitas e lembrou o julgamento de Bolsonaro e dos demais envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro. Militantes chamaram atenção para o ato bolsonarista marcado para a Avenida Paulista no mesmo dia, mas deixaram claro que, ao contrário dos golpistas, a democracia permite manifestações divergentes.

“Se dependesse deles, não poderíamos estar aqui. Queriam nos calar com um golpe. Mas estamos de pé, defendendo a democracia”, afirmou Ricardo Bonfim, da Central de Movimentos Populares.

Entre rostos conhecidos e militantes veteranos, histórias de resistência deram o tom humano da manifestação. Malvina Joana de Lima, pedagoga aposentada de 72 anos e militante petista há 44, participou de 580 dias da vigília Lula Livre e disse que frio e chuva não a tiram das ruas.
“O Brasil é nosso, não cabe a Trump mandar aqui. E não é possível que não se pague pelo que tentaram fazer com a nossa democracia”, afirmou.

Ao lado dela, Maria das Graças, auxiliar de enfermagem aposentada, resumiu o espírito do ato:
“Vim pela pátria. É importante estar presente, continuar lutando”.

Os ministros Luiz Marinho (Trabalho) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) representaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acompanhou os desfiles em Brasília.

O Sete de Setembro, que já foi sequestrado por discursos golpistas, voltou a ser palco de resistência popular em São Paulo: o grito que ecoou na Praça da República não foi de independência, mas de vigilância contra a anistia e de recusa ao retrocesso.