Tarcísio ataca STF e vira piada no Supremo após “vassalagem” em ato da extrema direita

Governador de São Paulo inflamou militância bolsonarista em manifestações de 7 de Setembro, acusando Moraes de “tirania”; atos tiveram bandeiras dos EUA e pedidos de intervenção, sob suspeita de crime contra a democracia

Por Sandra Venancio – Foto Paulo Pinto/Agencia Brasil

A extrema direita voltou às ruas neste 7 de Setembro com atos em várias capitais brasileiras — e um tom cada vez mais agressivo contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) assumiu papel central ao inflamar a militância com ataques diretos ao ministro Alexandre de Moraes, chamando-o de “tirano” e denunciando uma suposta “ditadura de toga”.

>> Siga o canal do Jornal Local no WhatsApp

Os atos, realizados em São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais, foram marcados por bandeiras gigantes dos Estados Unidos, exaltações ao ex-presidente Donald Trump e pedidos explícitos de intervenção no Brasil, gesto que juristas apontam como indício de atentado à democracia. “Bolsonaro acima de tudo” era o lema repetido entre cartazes, gritos e camisetas.

“Não vamos aceitar a ditadura de um Poder sobre o outro. Chega”, bradou Tarcísio em São Paulo, arrancando coro de “fora, Moraes” da plateia. Ao perceber a adesão, reforçou o ataque: “Talvez porque ninguém aguente mais a tirania de um ministro como Moraes. Ninguém aguenta mais o que está acontecendo neste país”.

A cena, porém, repercutiu mal em Brasília. Integrantes do STF viram o gesto como um ato de “vassalagem” ao bolsonarismo radical, o que virou motivo de piada entre ministros. Segundo apuração da jornalista Andréia Sadi (G1), a guinada de Tarcísio surpreendeu até um magistrado que mantinha relação amistosa com o governador. “Ele se queimou”, resumiu um interlocutor do tribunal.

Além da pauta pela anistia a Jair Bolsonaro, investigado por sua participação na tentativa de golpe de 8 de janeiro, os atos da extrema direita foram marcados pela hostilidade contra instituições democráticas. Juristas avaliam que a exibição da bandeira dos EUA como símbolo de intervenção externa pode configurar crime contra a soberania nacional e contra o Estado Democrático de Direito.

Enquanto Lula acompanhava os desfiles oficiais em Brasília e movimentos sociais lotavam a Praça da República, em São Paulo, para protestar contra a anistia e em defesa da democracia, a extrema direita optou por transformar o feriado da independência em palanque para narrativas golpistas.

No Supremo, a percepção é que Tarcísio, antes visto como figura moderada, se rendeu de vez à cartilha bolsonarista. E a frase que corre nos corredores resume o constrangimento: “Bolsonaro acima de tudo — até de Tarcísio”.

Soberania

Neste 7 de setembro, mais de 45 mil pessoas acompanharam o desfile cívico-militar na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, e ministros do Executivo estavam presentes no evento. Parte do público se manifestou com gritos de “sem anistia” e “soberania não se negocia”. O mesmo ocorreu nos atos do Grito dos Excluídos, sindicatos e movimentos sociais pelo país.

O principal tema do desfile oficial de 7 de setembro deste ano foi justamente a soberania do país. Outros eixos temáticos foram a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em Belém, em novembro, e o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). pronunciamento do presidente Lula em rede nacional de rádio e TV também tratou desses temas. Lula chamou os brasileiros que trabalham contra o Brasil de “traidores da pátria”. 

Este ano, as comemorações do 7 de setembro – Dia da Independência do Brasil ocorre em meio à crise bilateral entre Brasil e Estados Unidos, provocada pelo presidente norte-americano, Donald Trump, que impôs tarifas comerciais aos produtos brasileiros para pressionar o país a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está sendo julgado pelo STF pelos crimes de tentativa de golpe e abolição do Estado Democrático de Direito. O julgamento deve ser concluído esta semana.