Dino pede investigação da PF após ameaças por voto contra Bolsonaro

Ministro do STF relata ameaças graves nas redes sociais após se posicionar pela condenação do ex-presidente e sete réus da trama golpista

Por Sandra Venancio – Foto Luiz Silveira/STF

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu nesta quarta-feira (10) que a Polícia Federal (PF) investigue uma série de ameaças recebidas por ele nas redes sociais. Segundo Dino, os ataques começaram logo após seu voto pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete réus acusados de participação na tentativa de golpe de Estado.

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Em ofício encaminhado ao diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, o ministro relatou que passou a ser alvo de “ameaças graves” contra sua vida e integridade física. Ele destacou que uma das mensagens fazia alusão ao incêndio que matou a esposa do ex-primeiro-ministro do Nepal durante protestos que culminaram na renúncia do premiê K.P. Sharma Oli.

“Como sabemos, há indivíduos que são conduzidos por postagens e discursos distorcidos sobre processos judiciais, acarretando atos delituosos – a exemplo de ataques ao edifício-sede do STF, inclusive com uso de bombas”, afirmou Dino no documento.

O episódio não é isolado. Recentemente, a PF indiciou uma mulher que tentou agredir o ministro durante um voo entre São Luís e Brasília. A passageira, cujo nome não foi divulgado oficialmente, foi acusada de injúria e incitação ao crime. O caso ocorreu em 1º de setembro, um dia antes do início do julgamento do núcleo central da trama golpista na Primeira Turma do STF.

O voto

Na sessão da última terça-feira (9), Flávio Dino votou pela condenação dos oito réus e defendeu que houve atos executórios para tentar manter Jair Bolsonaro no poder, mesmo após a derrota nas urnas.

O ministro destacou que proporá penas mais severas para Bolsonaro e o general Braga Netto, por considerar que ambos exerceram papel de liderança no processo. Ele também criticou pressões externas, como as exercidas pelo governo do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o Brasil e sobre ministros da Suprema Corte.

Dino reforçou que os crimes em análise “não podem ser anistiados” e advertiu sobre os riscos de retrocessos institucionais caso a Corte ceda a pressões políticas internas ou estrangeiras.

Contexto das ameaças a ministros do STF

Nos últimos anos, ministros do STF têm sido alvo recorrente de ataques virtuais e físicos. Em 2020, o edifício-sede da Corte, em Brasília, sofreu um atentado com explosivos caseiros. Em 2023, após os ataques de 8 de janeiro, magistrados relataram o aumento das ameaças em meio à radicalização política.

Levantamentos da própria Polícia Federal indicam que boa parte das mensagens de intimidação circula em grupos fechados de aplicativos de mensagens e redes sociais, com forte apelo ideológico. A corporação vem monitorando perfis e articuladores desses ataques, que frequentemente estimulam atos violentos contra autoridades.