A escolha do filme que representará o Brasil na disputa por uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2026 está gerando uma polêmica acalorada nas redes sociais e entre especialistas do cinema.
A short-list divulgada pela Academia Brasileira de Cinema, com seis filmes selecionados, colocou em destaque dois longas que dividem opiniões: O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, e Manas (que se passa no Marajó), de Marianna Brennand. A decisão final, que será anunciada na próxima segunda-feira (15), promete ser tensa, com debates intensos entre críticos, artistas e o público.
A força de O Agente Secreto
Até recentemente, O Agente Secreto era considerado o favorito absoluto para representar o Brasil. Dirigido por Kleber Mendonça Filho, o filme conquistou quatro prêmios no prestigiado Festival de Cannes, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Wagner Moura, que já possui uma carreira consolidada nos Estados Unidos.
A trama, ambientada em Recife durante a Ditadura Militar de 1977, acompanha Marcelo (Wagner Moura), um especialista em tecnologia que retorna à sua cidade natal em busca de paz, mas se depara com segredos e perigos inesperados. O elenco estelar inclui nomes como Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Alice Carvalho e Hermila Guedes, e o filme, distribuído pela Vitrine Filmes, tem estreia marcada nos cinemas brasileiros para 6 de novembro.
A revista Variety, uma das principais publicações sobre cinema, destacou O Agente Secreto como um forte concorrente não apenas na categoria de Melhor Filme Internacional, mas também em outras como atuação, direção e roteiro original.
Clayton Davis, editor da Variety e responsável por prever a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro 2025 por Ainda Estou Aqui, reforçou o potencial do filme para superar o sucesso do longa anterior, que marcou presença na última edição do Oscar.
A ascensão de Manas
Nos últimos dias, Manas, dirigido por Marianna Brennand, emergiu como uma surpresa na disputa. O filme, que estreou nos cinemas brasileiros em maio deste ano, aborda a violência sexual sofrida por mulheres em uma comunidade ribeirinha na Ilha do Marajó.
A trama acompanha Marcielle, uma garota de 13 anos que vive com a família e idealiza a irmã mais velha, Claudinha, que deixou a comunidade após se relacionar com um homem. Conforme amadurece, Marcielle enfrenta a dura realidade de ambientes abusivos e decide confrontar a violência que permeia sua comunidade. O elenco conta com Jamilli Correa, Rômulo Braga, Dira Paes e Samira Eloá.
O longa ganhou força com o apoio de grandes empresas brasileiras e do ator norte-americano Sean Penn, que assumiu o papel de produtor executivo para o lançamento internacional. A adesão de Penn, que também apoiou Ainda Estou Aqui em sua campanha nos EUA, trouxe visibilidade inesperada a Manas.
A atriz Fernanda Torres, protagonista do mesmo Ainda Estou Aqui, intensificou a polêmica ao publicar no Instagram seu apoio ao filme de Brennand. “Muito feliz de saber que o Sean Penn embarcou como produtor do Manas no lançamento americano do filme. O Manas merece demais”, escreveu Torres, gerando reações mistas entre os internautas.
Polêmica nas redes sociais
A publicação de Fernanda Torres provocou críticas de fãs de O Agente Secreto, que a acusaram de “sabotar” a campanha do filme de Kleber Mendonça Filho.
“Com O Agente Secreto a indicação já é garantida e a galera querendo inovar a essa altura do campeonato”, lamentou um usuário. Outro comentário apontou: “A queridinha está sabotando a campanha de O Agente Secreto para o Oscar”. Diante da repercussão, Torres tentou apaziguar os ânimos, divulgando uma nova postagem em apoio a O Agente Secreto.
“Doida para ver”, escreveu, destacando a sessão especial do filme no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, marcada para esta sexta-feira (12), que pode influenciar a decisão final da Academia.
A divisão entre os apoiadores dos dois filmes reflete o embate entre a força internacional de O Agente Secreto, com seu reconhecimento em Cannes e a presença de Wagner Moura, e o impacto social de Manas, que aborda uma temática urgente e conquistou respaldo de nomes influentes. Nas redes sociais, internautas especulam que a escolha de Manas como representante brasileiro poderia abrir espaço para O Agente Secreto disputar outras categorias do Oscar, como atuação e direção, devido à sua campanha internacional já consolidada.
Riscos e precedentes
A disputa, no entanto, não está isenta de riscos. Um exemplo recente ilustra os perigos de uma escolha inesperada: na França, a Academia de Cinema optou por não indicar Anatomia de Uma Queda para a categoria de Melhor Filme Internacional, apesar de sua força global.
A decisão custou ao país a chance de conquistar o primeiro Oscar na categoria em mais de 30 anos, mesmo com o filme vencendo estatuetas em outras categorias.
Esse precedente alimenta o debate sobre a estratégia da Academia Brasileira de Cinema, que deve pesar o impacto internacional de O Agente Secreto contra o potencial de Manas para destacar questões sociais relevantes.
Expectativa pela decisão
A escolha do representante brasileiro será anunciada na próxima segunda-feira (15), e a tensão aumenta à medida que a data se aproxima. Além de O Agente Secreto e Manas, a short-list inclui Baby (Marcelo Caetano), Kasa Branca (Luciano Vidigal), O Último Azul (Gabriel Mascaro) e Oeste Outra Vez (Erico Rassi).
No entanto, a polarização entre os dois principais concorrentes domina as discussões, com críticos e fãs aguardando ansiosamente para saber se o Brasil apostará no prestígio internacional de O Agente Secreto ou na força social e crescente apoio de Manas.
O resultado definirá os rumos da campanha brasileira na corrida pelo Oscar 2026, em um momento crucial para o cinema nacional.
The post Filme no Marajó pode disputar o Oscar, mas enfrenta poderoso concorrente appeared first on Ver-o-Fato.