Supostos experimentos secretos de controle mental e manipulação temporal teriam ocorrido em uma base militar abandonada em Long Island/NY/EUA.
As instalações de um enorme radar militar abandonado no extremo leste de Long Island, no estado de New York nos Estados Unidos, guardam segredos que intrigam milhares de pessoas pelo mundo há décadas, gerando teorias obscuras difíceis de comprovar ou negar. Entre tais teorias e as ruínas de concreto da aposentada base militar Montauk Air Force Station – que hoje faz parte do Camp Hero State Park – sobreviventes e testemunhas falam sobre experimentos bizarros envolvendo manipulação mental, viagens no tempo e um sinistro sincretismo entre o sobrenatural e a ciência.
Estamos falando do Projeto Montauk, teoricamente nascido das sombras do Experimento Filadélfia e que continua a assombrar a cultura popular e a desafiar quem busca separar fatos de ficção, sendo um dos verdadeiros pilares do universo das teorias da conspiração.
O espectro do Experimento Filadélfia

Entender o Projeto Montauk exige que recuemos para 1943 e para o Experimento Filadélfia, quando o USS Eldridge supostamente teria desaparecido de um estaleiro da Marinha Americana na Filadélfia, teleportando-se para Norfolk, Virgínia. O experimento, também chamado por alguns de Operação Rainbow, é considerada por muitos como uma história falsa, e negada oficialmente por órgãos militares. Mas de uma forma ou de outra, tornou-se a pedra angular das conspirações tecnológicas, apresentando navios invisíveis, tripulantes fundidos ao casco e marinheiros completamente colapsados mentalmente.
Do fracasso do Experimento Filadélfia teria nascido o Projeto Phoenix, reunindo figuras como John von Neumann e tendo se inspirado nas ideias do polêmico psiquiatra Wilhelm Reich e sua teoria da energia orgone. A obsessão dos envolvidos pelo estudo e uso da interação entre campos eletromagnéticos e a consciência humana supostamente levou à reforma da gigantesca instalação militar da Montauk Air Force Station em Camp Hero, uma antiga estação de radar SAGE, convertendo-a nos anos 1970 e 1980 em um laboratório secreto para experiências de manipulação mental e muito mais.
A gênese do Projeto Montauk

O livro The Montauk Project (1992), assinado por Preston Nichols e Peter Moon, consolidou toda uma narrativa em torno desta famosa teoria da conspiração. Nichols, engenheiro de rádio, afirmava ter trabalhado no local e ajudado a desenvolver a chamada Montauk Chair, um dos dispositivos centrais na lore do Projeto Montauk. Supostamente, este artefato:
- Seria uma cadeira física, ligada a sistemas de computadores e transmissores de rádio de alta frequência.
- Um usuário era conectado ao sistema ao sentar-se nela e a seus sensores eletromagnéticos, capacetes e sistemas de monitoramento neural – semelhantes a EEGs (Eletroencefalogramas) muito avançados, mas nunca documentados cientificamente.
- Seria baseada – teoricamente – em pesquisas do governo sobre controle mental e parapsicologia, bem como experiências do tipo MKUltra.
- A cadeira supostamente amplificava os pensamentos e visualizações do usuário através de circuitos e tecnologia avançada. Algumas versões mencionam inclusive o uso de tecnologia de origem alienígena.
- Nos relatos, determinadas pessoas, ao sentarem na cadeira, eram capazes de manifestar objetos físicos, cenas ou até mesmo portais de acesso a outras dimensões e períodos temporais, “trazendo para a existência” aquilo que visualizavam intensamente em suas mentes.
- O aparelho permitiria não só a manifestação de fenômenos “paranormais”, mas também o controle e monitoramento de ondas cerebrais, leitura de pensamentos e indução de estados alterados de consciência.
- Combinada com outros equipamentos do Projeto Montauk, a cadeira teria sido usada para enviar pessoas mentalmente (ou plenamente, dependendo do relato) para outros tempos e lugares, por meio de portais abertos pelo poder da mente de alguns usuários, amplificada pelo dispositivo.
Além disso, Nichols afirmou que o financiamento do projeto vinha de ouro nazista oriundo de um lendário trem de carga do Reich desaparecido durante a confusão do final da segunda guerra. Essa conexão nunca pode ser confirmada, mas se encaixa em uma longa tradição de narrativas sobre o destino do ouro do Reich.
Mais do que delírio ou fraude editorial, o livro funcionou como ponto de convergência de medos coletivos: a guerra fria, o controle mental, desaparecimentos e uma ciência avançada, obscura e estranha fora do alcance público.
Envolvimento extraterrestre?

Algumas das versões mais selvagens do mito do Projeto Montauk dizem que uma raça de extraterrestres vindas da constelação de Sirius, os siriusianos, teriam tido um papel crucial nos bastidores dos experimentos. Supostamente, esses seres teriam iniciado contato com cientistas e sensitivos do projeto, compartilhando ensinamentos avançados sobre manipulação do tempo, portais interdimensionais e engenharia psíquica. Algumas narrativas falam em encontros sigilosos em que representantes siriusianos entregaram dispositivos ou diagramas capazes de potencializar as experiências com a Montauk Chair, permitindo saltos de consciência, viagens por outros planos e a abertura de vórtices que conectavam a Terra a diferentes pontos do universo. O acesso a essas tecnologias teria proporcionado avanços súbitos em experimentações sobre controle mental e até possibilitado a observação de realidades paralelas.
Na visão desses relatos, a participação siriusiana não se limitou ao fornecimento de conhecimento técnico. Eles teriam atuado como orientadores e monitores do próprio desenvolvimento psíquico dos paranormais envolvidos, guiando sensitivos como Duncan Cameron em processos de expansão mental e despertando capacidades e memórias cósmicas profundas em certos “voluntários” escolhidos. Algumas versões da história relatam ainda que parte dos integrantes do projeto possuía ascendência genética ligada ao sistema estelar de Sírius, sendo capazes de canalizar habilidades incomuns fundamentais para o sucesso de experiências mais ousadas. Dessa forma, os siriusianos acabam sendo descritos como aliados ocultos no esforço de transformar tanto a ciência quanto a consciência humana, envolvendo o Projeto Montauk numa aura de mistério cósmico e no eterno fascínio pelas possibilidades de contato interplanetário.
Testemunhos de supostos sobreviventes

O documentário Lost Souls of Montauk – Full Documentary, de 2024, trás à tona testemunhos de supostas vítimas sobreviventes do Projeto Montauk, verdadeiras cobaias humanos involuntárias que, ainda crianças, teriam sido sequestradas, torturadas e mentalmente programadas nas instalações atualmente em Camp Hero. Seus testemunhos falam em regressão de idade, com um processo de viagem no tempo aonde eles trabalhavam por 20 anos no serviço secreto antes de serem regredidos no tempo (corpo e mente) por tecnologias avançadas ou métodos psíquicos.
Um dos relatos mais recorrentes de testemunhas descreve o trauma da dissociação forçada, obtida por meio de uma série de abusos e torturas que visavam fragmentar a mente e facilitar sua programação. Outros falam de vastas estruturas subterrâneas na base, que lembrariam aquilo que conhecemos como aceleradores de partículas. E também a execução de sinistras experiências que misturavam rituais satânicos à engenharia militar, coma finalidade de aumentar o trauma emocional para atingirem a dissociação forçada das cobaias, ou quem sabe, para realmente interagir com o sobrenatural.
Duncan Cameron

Nos relatos das supostas testemunhas e vítimas, o nome Duncan Cameron sempre foi mencionado como uma das figuras centrais da mitologia criada em torno do Projeto Montauk. Frequentemente ele é descrito como o “sensitivo” principal dos supostos experimentos de manipulação psíquica e viagens no tempo realizados na Montauk Air Force Station durante os anos 1970 e 1980.
Na verdade, segundo relatos populares entre entusiastas da conspiração, Duncan era o indivíduo colocado na “Montauk Chair”. Ele era frequentemente descrito como dotado de poderes paranormais fora do comum, capazes de afetar aparelhos eletrônicos, gerar fenômenos anômalos e interagir com outras dimensões apenas pelo foco mental.
O nome de Duncan Cameron se popularizou principalmente graças aos livros e entrevistas de Preston Nichols e suas sequências, além de Al Bielek, outro nome recorrente das teorias tanto sobre o Projeto Montauk quanto sobre o Experimento Filadélfia.
Nichols descreveu Duncan como um colaborador direto, testemunha e protagonista de vários dos experimentos extraordinários narrados em suas obras e palestras. A história de Cameron foi endossada, repetida e expandida por diversos outros autores de ufologia, podcasts alternativos e documentários independentes, ajudando a consolidar seu papel como personagem icônico do folclore conspiratório norte-americano.
Música, frequências e a cultura pop

O Projeto Montauk tem uma casuística extremamente rica, indo além de histórias sobre viagem no tempo, paranormalidade, tecnologia alienígena e conspiração governamental. Ela se aprofunda em conceitos de engenharia social.
Tanto Preston Nichols quanto outros envolvidos em sua mitologia alegaram e alegam que o projeto teria investigado profundamente o uso de vibrações sonoras e frequências musicais como ferramentas de controle mental e manipulação de estados de consciência. Segundo essas narrativas, uma das linhas de pesquisa mais ousadas do projeto era a tentativa de descobrir ondas sonoras específicas que pudessem alterar não apenas o humor ou as emoções dos indivíduos, mas também induzir estados mentais programados, apagar ou implantar lembranças e até mesmo manipular a percepção da realidade. O grupo de cientistas e técnicos de áudio na base de Montauk teria desenvolvido geradores de frequência e equipamentos capazes de emitir essas ondas de forma direcionada à mente dos sujeitos de teste, supostamente potencializando efeitos por meio do uso conjunto com a Montauk Chair.
Além dos experimentos individuais com cobaias humanas, os relatos sugerem que o Projeto Montauk buscava compreender como músicas populares e tendências culturais poderiam ser usadas para afetar massas inteiras de pessoas. De acordo com Nichols, parte do intuito era criar ondas sonoras e padrões rítmicos potencialmente inseridos de maneira subliminar em músicas tocadas no rádio, festas ou eventos de massa, influenciando comportamentos coletivos e até moldando tendências culturais. Teorias mais ousadas, originadas a partir desses relatos, propõem que sucessos culturais e mudanças comportamentais da sociedade que ocorreram nas décadas de 1970 e 1980 poderiam ter sido deliberadamente impulsionadas por experimentos de manipulação coletiva usando vibração sonora em escala populacional.
Essas ideias, mesmo sem qualquer comprovação científica real, ajudaram a formar um subgênero de paranoia cultural, somando-se a preocupações já existentes, como o medo de mensagens subliminares na música pop, influência de certos ritmos no comportamento juvenil ou manipulação midiática em larga escala. O Projeto Montauk, ao conectar conceitos de controle mental, experimentação sonora e cultura pop, fortaleceu o imaginário conspiratório sobre a possibilidade de músicas, sons e tendências culturais serem mais do que entretenimento — atuando como ferramentas intencionais de manipulação psicológica e social invisível, servindo interesses de poderes ocultos por trás dos bastidores da indústria cultural.
Sejam estas coincidências ou construção pós-fato, é inevitável lembrar o quanto Montauk moldou o imaginário moderno: das séries de TV The X-Files à Stranger Things (cuja história e personagens é fortemente inspirado na mitologia do Projeto Montaulk), passando por músicas chiclete dos anos 1970 e 1980, mudanças culturais profundas e teorias underground.
Túneis e linhas de Ley

Uma das teorias mais intrigantes sobre o Projeto Montauk envolve a existência de uma vasta rede de túneis subterrâneos abaixo das instalações da antiga base militar em Camp Hero. Segundo depoimentos Preston Nichols, Al Bielek, Brian Minnick e outros, esses túneis formariam um labirinto com laboratórios secretos, áreas de contenção, dormitórios ocultos e salas dedicadas a experimentos de controle mental, viagens interdimensionais e tecnologia exótica. Algumas narrativas chegam a mencionar túneis que conectariam a base ao oceano Atlântico ou a outras instalações militares distantes, com entradas camufladas e acesso restrito, alimentando a lenda de atividades clandestinas e mistérios jamais revelados ao público.
Apesar de provocar fascínio e alimentar o mito, não há qualquer comprovação física ou documental da existência de tais túneis. O que de fato existe são estruturas subterrâneas típicas de antigas bases militares, como bunkers, corredores e dutos lacrados, que serviam para proteção e armazenamento durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. A limitação de acesso a essas áreas, juntamente com relatos de exploradores urbanos que apenas encontraram passagens bloqueadas ou espaços abandonados, reforça a aura de mistério dando asas à imaginação sobre uma suposta base subterrânea. Ainda assim, os supostos túneis funcionam como um potente combustível para a cultura pop e o folclore conspiratório, mantendo viva a ideia de que grandes segredos continuam ocultos sob o solo de Montauk.
Preston Nichols ainda diz que Camp Hero fica em um ponto de interseção da grade energética planetária (ou linhas de Ley), uma grade energética natural do planeta Terra explorada por rituais ocultistas. Os povos nativos algonquinos já consideravam Montauk um lugar de grande significado espiritual muito antes da chegada dos europeus às américas e da ocupação militar do local.
Sejam estas estruturas apenas bunkers de Segunda Guerra, túneis de mísseis do Projeto Nike dos anos 1960 ou laboratórios secretos, a verdade é que Camp Hero permanece em silêncio – um silêncio ensurdecedor. Apesar do atual Parque Estadual Camp Hero oferecer visitação livre, áreas para piquenique, uma praia, trilhas para caminhadas, ciclismo, cavalgadas e esqui cross-country, o local ainda carrega uma aura de mistério difícil de ser quebrada, especialmente porque visitações ao interior das antigas instalações militares são expressamente proibidas e ilegais. O motivo? Segurança (riscos de desabamento, ferrugem e materiais perigosos). Oficialmente a maioria das entradas de prédios, bunkers e instalações estariam bloqueadas e concretadas por este motivo.
Concluindo…
O Projeto Montauk é uma junção de diversas versões de um mesmo mito, alguns complementares, outros, excludentes. De um lado, temos um livro sensacionalista dos anos 1990 que deu corpo à lendas herdadas do Experimento Filadélfia, somado a relatos de supostos sobreviventes que, entre memórias quebradas e dores reais, descrevem abusos, manipulações e tecnologias impossíveis de ignorar mas difíceis de acreditar. Já por outro lado, temos uma imensa falta de provas robustas e verificáveis que corroborem a mínima credibilidade da história. Porém, se algo desta magnitude realmente ocorreu, seria de se esperar que conseguissem enterrar as provas fundo o bastante para que ninguém as encontrasse, não?
Se a tecnologia descrita – controle mental em massa, viagens no tempo, materialização do pensamento – jamais for comprovada, o fato de tantas vozes convergirem ao mesmo ponto geográfico e simbólico já é algo estranho por si só. Por que tantas pessoas diferentes colaborariam na perpetuação e evolução de uma história falsa?
O Projeto Montauk permanece desta forma como uma sobra etérea que não pode ser negada e nem comprovada, vivendo em um limbo entre o real e a ficção e gerando um questionamento paranoico bastante válido diante de tantos outros casos já comprovados do passado, como o MKUltra e a Operação Mockinbird: até onde o Estado, os militares e as corporações poderiam ir sem a devida supervisão pública?
A dúvida é o que mantém viva a investigação. E talvez seja justamente essa dúvida – a impossibilidade de fechar o caso – que torna Montauk tão perturbador e fascinante.
Fonte: https://spaceparanoia.substack.com/p/projeto-montauk
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