Dietas extremas de famosos: do fígado cru ao “ar como alimento”

Papinha de bebê no almoço, carne crua no jantar e, em casos mais extremos, nada além de luz e ar no dia a dia. Pelo mundo, pessoas seguem hábitos alimentares que parecem saídos de filme de terror, mas são reais, perigosos e, em alguns casos, fatais. Dietas extremas mostram os limites que alguns levam em busca de emagrecimento, estilo de vida ou ideais de saúde, mas o preço pode ser alto: há casos de influenciadores que foram desmascarados, como aconteceu com o “Rei do Fígado”, e outras que chegaram a morrer enquanto promoviam estilos de vida saudáveis. O portal Extra.globo também publicou reportagem sobre o tema.

Breatharianismo

Mais que uma simples dieta, o “breatharianismo” é uma filosofia espiritual que, em sua forma mais extrema, defende que é possível sobreviver apenas de ar e luz solar, sem a necessidade de comida ou água. O americano Wiley Brooks, um dos principais defensores do movimento nos anos 80 e fundador do Instituto Breatharian da América, afirmava ter vivido por 30 anos sem comer. Ele chegou a aparecer em um programa de TV popular para promover seu estilo de vida.

No entanto, em 1983, Brooks foi pego por jornalistas com um cachorro quente, uma barra de chocolate e uma raspadinha. Anos depois, declarou que todos os restaurantes McDonald’s estão construídos sobre portais espirituais de alta energia e chegou a incentivar o consumo de Coca-Cola diet e do sanduíche Quarterão com queijo. Ele também desaconselhava beber qualquer tipo de água.

A australiana Ellen Grave, conhecida como Jasmuheen, foi uma das mais famosas seguidoras do movimento. Ela foi desafiada por um programa de TV em 1999 para demonstrar como vivia sem água ou comida, acompanhada por médicos e câmeras. Após 48 horas, já apresentava sinais de desidratação grave, estresse e pressão alta. Jasmuheen alegou que os sintomas eram causados por “ar poluído”.

No terceiro dia, ela foi levada para um retiro nas montanhas, onde foi filmada dizendo que agora conseguia praticar o breatharianismo com sucesso. Mas, à medida que as filmagens avançavam, sua fala ficou mais lenta, as pupilas dilataram e ela perdeu mais de 6 kg. Após quatro dias, Jasmuheen reconheceu a perda de peso, mas insistiu que se sentia bem.

É consenso entre médicos e cientistas que a privação de água e comida é extremamente perigosa. O corpo entra rapidamente em desnutrição e desidratação, levando a danos nos órgãos e, em poucos dias, à morte.

Crudivorismo

Zhanna Samsonova, de 39 anos, conhecida como Zhanna D’Art, era uma influenciadora russa com milhares de seguidores no Instagram. Ela seguia uma dieta vegana crudívora extrema, ou seja, baseada apenas em alimentos crus, como frutas e brotos. Em julho de 2023, morreu “de fome e exaustão” na Malásia após anos compartilhando seu estilo de vida nas redes. Amigos relataram que, antes da morte, estava extremamente debilitada, com o corpo enfraquecido e dificuldades até para andar.

Durante dez anos, seguiu uma dieta baseada em vegetais crus, frutas, brotos de sementes de girassol, smoothies de frutas e sucos. Ela parou de beber água seis anos antes de morrer e se hidratava com sucos e frutas suculentas. A mãe de Zhanna disse à imprensa russa que a filha morreu de uma infecção parecida com cólera, agravada pela alimentação extremamente restritiva.

Dietas veganas não são ruins por si só, mas precisam de acompanhamento profissional. Segundo uma revisão publicada na Journal of the American Nutrition Association, dietas veganas mal planejadas podem resultar em deficiências de nutrientes essenciais como vitamina B12, ferro, zinco, cálcio e proteínas completas, o que pode causar anemia, fraqueza, problemas ósseos e queda da imunidade.

Dieta ancestral

O YouTuber e influenciador americano Brian Johnson, conhecido como “Liver King” (rei do fígado, em inglês), ficou famoso por promover uma dieta extremamente carnívora, comendo carne crua, órgãos de animais como fígado e testículos, num estilo de vida “ancestral”. Sua popularidade cresceu com a promessa de que essa dieta, combinada com exercícios intensos, levava à saúde e a um corpo musculoso.

No entanto, em 2022, Johnson foi desmascarado quando e-mails vazados mostraram que gastava cerca de US$ 11 mil por mês (mais de R$ 58 mil) em esteroides e hormônios de crescimento.

Segundo especialistas, uma dieta como a dele, baseada em medula óssea, ovos fecundados, fígado, carnes cruas e testículos, pode fornecer grandes quantidades de proteínas, mas traz riscos: consumir carne crua aumenta a chance de infecções por salmonela, E. coli e parasitas; além disso, a ingestão excessiva de certos nutrientes e vitaminas presentes nesses alimentos, como ferro e vitamina A, pode causar toxicidade, sobrecarga hepática e danos aos rins.

McDieta

Em 2023, Kevin Maginnis, de 57 anos, viralizou ao anunciar no TikTok que faria todas as refeições no McDonald’s por três meses. O curioso é que ele dizia estar perdendo peso apenas reduzindo as porções. Ao final dos 100 dias de experimento, segundo ele, o resultado foi uma redução nos níveis de gordura e colesterol, melhora na quantidade de açúcar no sangue e a perda de aproximadamente 26,5 quilos.

Nutricionistas alertam que a perda de peso de Maginnis não significa que ele estava emagrecendo de forma saudável. O déficit calórico explica a redução, mas a dieta rica em gorduras, açúcares e sódio, sem fibras, vitaminas e minerais, traz riscos sérios à saúde. Entre eles estão pressão alta, diabetes, problemas intestinais e desnutrição de micronutrientes.

Coma como um bebê

Essa dieta, que conquistou famosas como forma de perder peso rápido, foi criada pela personal trainer de celebridades Tracy Anderson no início dos anos 2000 e ganhou popularidade rapidamente. Em 2010, a atriz Jennifer Aniston teria adotado o método para perder 3 kg em uma semana durante as filmagens do filme Esposa de Mentirinha.

A dieta consiste em substituir refeições por potes de papinha de bebê. A ideia é que, por ser controlada em porções e ter poucas calorias, ajude no emagrecimento. Embora isso possa ser verdade a curto prazo, a alimentação não é sustentável a longo prazo, por ser extremamente restritiva e carecer de fibras necessárias para o bom funcionamento do intestino, afirma a Cleveland Clinic. Além disso, a comida de bebê não possui a mastigação necessária para a saúde digestiva e bucal. A longo prazo, pode causar deficiências nutricionais e sérios problemas de saúde, alertam especialistas consultados pelo portal Healthline.

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