Mostra que marca a abertura da primeira unidade da CAIXA Cultural da Região Norte – no dia 9 de outubro – reúne obras que propõem uma travessia crítica por diferentes formas de representar, tensionar e imaginar as paisagens brasileiras – naturais, humanas, simbólicas e políticas – em tempos de crise ambiental, social e civilizatória. (Fotos: obras de Raimundo Cela, Xadalu Tupâ Jakupé, Candido Portinari e Mônica Bardi)
Trabalhos de Emmanuel Nassar, Frans Krajcberg, Maria Martins, Farnese de Andrade, Xadalu Tupã Jekupé, Djanira, Adriana Varejão, Ricardo Ribenboim, Siron Franco, Heitor dos Prazeres, Daniel Senise, Portinari, Anna Bella Geiger e Eliseu Visconti, entre outros mestres das artes plásticas, compõem o conjunto de 50 obras selecionadas para a exposição, a partir dos acervos de duas importantes instituições museológicas brasileiras vinculadas ao IBRAM — Museu Nacional de Belas Artes e Museus Castro Maya.
Paisagens em Suspensão, que acontece às vésperas da COP 30 na Amazônia, sugere um estado de espera, fragilidade e transformação – um tempo suspenso entre o que ainda resiste e o que ameaça desaparecer. A exposição busca não apenas expor obras, mas fazer da arte um campo sensível para imaginar formas mais generosas e conscientes de habitar o mundo.
Com curadoria de Daniela Matera Lins e Daniel Barretto, as pinturas, esculturas, gravuras, fotografias e instalações selecionadas para a mostra dialogam entre si, atravessando temas como a devastação dos territórios, a expropriação dos corpos, a memória da terra, o colapso climático e a potência de futuros ancestrais.
Organizada em cinco núcleos curatoriais, Paisagens em Suspensão parte da ideia de “paisagem” não apenas como representação da natureza, mas como construção histórica, política e sensível – um território em constante disputa. A curadoria propõe uma leitura da arte como ferramenta de escuta e denúncia diante das urgências do presente, explorando temas como devastação ambiental, memória coletiva, ancestralidade e justiça climática.
OS NÚCLEOS
O Corpo da Arte – Neste segmento encontram-se obras que exploram a materialidade, o gesto e a presença física da arte como corpo sensível em diálogo com o tempo, a técnica e o suporte. Uma abordagem que entende a arte como organismo vivo, que não se restringe à figura humana representada, mas compreende todas as suas camadas, sejam materiais, conceituais e/ou simbólicas, como partes de uma corporeidade expandida. A corporificação da arte a partir do gesto, do suporte, da memória, do tempo, da técnica e do espaço. Obras como “Composição abstrata”, 1967, de Frans Krajcberg; “Sem título”, 2018, de Marcia Thompson; “Estudo de nuvens”, de Vítor Meireles; “O avô”, 1987-1995, de Farnese de Andrade, entre outros, encontram-se neste núcleo.
Paisagem, utopia, distopia – As obras deste segmento navegam entre a idealização e a ruína. De um lado, a visão bucólica de uma natureza utópica; de outro, a distopia da exploração ambiental e social. Confrontando a paisagem idílica dos viajantes estrangeiros no Brasil com os rastros do colapso, colocam em evidência a complexa relação entre harmonia, exploração e transformação do nosso território. Entre os trabalhos apresentados encontram-se “Vista de um mato virgem que se está reduzindo a carvão”, circa 1843, de Félix Émile Taunay; “Grilo Solar nº 2”, de Paulo Nenflídio; “Sem Título”, 1998-2002, de Daniel Senise; “A Derrubada”, circa 1897, de Pedro Weingartner.
Faz de Todos Nós “Índios”? – Este núcleo articula arte e denúncia, colocando em evidência os paralelos entre os processos coloniais e a atual destruição dos ecossistemas e das culturas originárias. Obras como “Mineiros de carvão, Santa Catarina”, 1974, de Djanira; “Amazônia”, 2022, de Ricardo Ribenboim; “Café”, 1935, de Candido Portinari; e “Ruina de charque”, s/d, de Adriana Varejão são alguns dos exemplos.
Imaginar o Porvir – Este núcleo propõe uma virada: pensar o porvir não como invenção do novo, mas como escuta do que foi silenciado. O futuro não está adiante – ele pulsa atrás, ao lado, embaixo: nas memórias enterradas, nas cosmologias ancestrais, nos saberes que resistiram ao apagamento. Imaginar o porvir a partir do futuro ancestral é acolher outras formas de tempo, espaço e existência. Aqui encontram-se as obras “Ivy Tenondé”, 2022, de Xadalu Tupã Jekupé; “Consertando a rede”, 1947, de Raimundo Cela; “Rupestre”, 1998, de Siron Franco; “Composição”, 1940, de Maria Martins, entre outros.
Aprender a Viver com os Vivos – Em tempos de destruição ambiental e injustiça social, este núcleo afirma o direito à vida em sua forma mais ampla como direito à diversidade, à dignidade, à permanência, ao afeto e aos sonhos. As obras selecionadas evocam o desejo de celebração, a necessidade de abrigo, um lugar para reconhecer os vínculos que nos unem, para imaginar alianças entre espécies e culturas, e para cultivar modos mais generosos e conscientes de habitar o mundo. “Carnaval de Subúrbio”, 1962, de Di Cavalcanti; “Sem título”, 1999, de Leonilson; “Capitães de Areia, Ilha de Itaparica”, 2008, de Andrea Fiamenghi; “Praça XV de Novembro”, 1966, de Heitor dos Prazeres; “Sobre nácar”, de Anna Bella Geiger, entre outros, estão neste segmento.
SERVIÇO
Paisagens em Suspensão
Abertura: 9 de outubro, às 11h
Visitação: até 18 de janeiro de 2026
CAIXA Cultural Belém
Av. Mal. Hermes, S/N, Armazém 6, Porto Futuro II, Umarizal, Belém / PA
Dias/Horários: terça a domingo, das 11h às 22h
Entrada gratuita
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