Juliana Soares, de 35 anos, a mulher brutalmente agredida com 61 socos no rosto em Natal (RN), recebeu um gesto de carinho que trouxe novo ânimo à sua recuperação. Alunos da Escola Estadual de Ensino Jonathas Pontes Athias, em Marabá, enviaram 234 cartas e doces para demonstrar apoio.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, Juliana contou que o presente foi um alento. “Foi muito emocionante receber todo esse carinho, todo esse acolhimento. Eu fiquei muito feliz de haver esse resgate, primeiro do uso da carta, e também por abordarem um tema tão necessário, que deve ser discutido desde cedo nas escolas”, disse, visivelmente emocionada.
Ela afirmou que ações como essa são um incentivo para continuar acreditando na reconstrução da própria história. Juliana avalia ainda que nada justifica a agressão sofrida por ela, mas a sociedade ainda tem uma estrutura que normaliza certos comportamentos, porque isso está enraizado na cultura machista. Por isso, é tão importante falar sobre o tema em sala de aula e usar esse tipo de iniciativa mais vezes, para que as pessoas fiquem mais atentas, uma vez que, as agressões nem sempre começam de forma física.
De atividade escolar a gesto de empatia
A iniciativa foi idealizada pela professora de Língua Portuguesa e Eletivas, Aline Lima Pinheiro. Aline explica que o projeto começou durante atividades de volta às aulas, em agosto, quando os alunos participaram de uma dinâmica sobre saúde emocional e compartilharam experiências pessoais delicadas. “Eu pensei: já que sou professora de linguagens, tenho que trabalhar isso de alguma maneira. E a infeliz coincidência é que, em pleno Agosto Lilás (mês de conscientização sobre a violência contra a mulher), tivemos o caso da Juliana”, relata Aline.
A partir daí, os alunos foram convidados a escrever cartas de afeto e acolhimento, exercitando o gênero textual da carta íntima. Muitas mensagens foram ilustradas e decoradas, tornando o material ainda mais especial. Segundo a professora, nem todos os alunos se sentiram confortáveis para escrever no início, por não se verem em lugar de fala. “Eu os orientei a escrever como forma de construir um mundo melhor para todas as pessoas”, conta.
Mobilização escolar
A ação envolveu turmas do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio. Muitos estudantes que não haviam participado da primeira dinâmica também se engajaram após conhecer a história de Juliana.
Beatriz Rodrigues, representante do 3º ano, disse que escrever sua carta foi um ato de solidariedade. “Eu quis mostrar que ela não está sozinha neste momento. De alguma forma, mostramos apoio a ela”, afirma a educadora. Juliana disse que cada palavra recebida foi como um abraço.
Da dor à missão
Mesmo em meio à dor e ao trauma, Juliana decidiu transformar o sofrimento em força. Ela afirma que não buscou os holofotes, mas hoje entende que sua história pode salvar vidas.
“Minha voz agora é para alertar outras mulheres. Muitas estão vivendo relacionamentos abusivos e não percebem. Acham que é cuidado, que é amor, mas na verdade é controle, é tóxico. Quero mostrar que isso não é normal”, disse ela em postagens na própria rede social.
Com mais de 923 mil seguidores no Instagram, Juliana usa suas redes sociais para compartilhar reflexões sobre o ciclo de violência doméstica, incentivando mulheres a reconhecerem os sinais de abuso e buscarem ajuda. Em sua bio, ela resume sua nova missão: “Da dor, nasce a missão: levantar e apoiar outras mulheres.”
Relembre o caso
O crime que chocou o país aconteceu na manhã de 26 de julho, em Ponta Negra, bairro turístico de Natal. Câmeras de segurança de um condomínio registraram Juliana e Igor Eduardo Pereira Cabral, de 29 anos, na área da piscina. O vídeo mostra o momento em que ela é brutalmente espancada, levando 61 socos na cabeça e no rosto.
Juliana precisou passar por uma cirurgia complexa de reconstrução facial em um hospital público. O procedimento, previsto para durar quatro horas e meia, levou quase sete horas. Ela sofreu múltiplas fraturas: três na região do olho direito, uma abaixo do nariz, fragmentos na maçã do rosto e outra na mandíbula.
Igor está preso na Cadeia Pública Dinorá Simas, em Ceará-Mirim (RN).
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