Piloto aponta presidente do União Brasil como dono oculto de aviões ligados a empresa de voos investigada por atuar para o PCC

Antônio Rueda nega qualquer envolvimento e afirma que jamais adquiriu aeronaves; denúncia surgiu em depoimento de ex-piloto à Polícia Federal

Por Sandra Venancio – Foto Divulgação União Brasil

Um depoimento prestado à Polícia Federal reacendeu as suspeitas sobre a atuação de políticos em negócios de aviação supostamente usados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). O piloto Mauro Caputti Mattosinho, de 38 anos, afirmou que o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, seria um dos verdadeiros donos de quatro jatos executivos operados por uma empresa de táxi aéreo investigada por transportar líderes da facção criminosa.

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Segundo o piloto, que trabalhou na companhia até este mês, Rueda era citado internamente como o “chefe de um grupo com muito dinheiro para gastar” em aeronaves avaliadas em milhões de dólares. Mattosinho disse ainda ter transportado em pelo menos 30 ocasiões os foragidos Mohamad Hussein Mourad, o Primo, e Roberto Augusto Leme da Silva, o Beto Louco, apontados como articuladores de um esquema bilionário de lavagem de dinheiro a serviço da facção.

Rueda, em nota, negou qualquer participação no negócio. “Repudio com veemência qualquer tentativa de vincular meu nome a pessoas investigadas. Nunca comprei aeronaves, e meus deslocamentos são feitos em voos comerciais ou fretados”, afirmou.

A denúncia veio à tona após uma operação conjunta da Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público de São Paulo, no fim de agosto, contra a estrutura de lavagem de dinheiro do PCC. Mattosinho relatou que sua última viagem pela empresa foi justamente para transportar parentes de Beto Louco ao Uruguai, na véspera da ofensiva policial. No retorno ao Brasil, foi abordado por agentes da PF no aeroporto Catarina, em São Roque (SP), sob suspeita de que o líder criminoso estivesse a bordo.

Em entrevista ao ICL Notícias, o piloto também relatou ter presenciado situações suspeitas, como o transporte de uma sacola de papelão que aparentava conter dinheiro vivo. Na ocasião, disse ter ouvido menção a um possível encontro de Beto Louco com o senador Ciro Nogueira (PP-PI). O parlamentar negou qualquer proximidade com o investigado e ingressou na Justiça contra o veículo, pedindo indenização por danos morais.

Enquanto a investigação avança, a PF tenta identificar a real propriedade das aeronaves. Uma delas estaria registrada em nome de uma empresa da periferia de Imperatriz (MA), cuja sócia afirma desconhecer tanto a firma quanto o avião.

A defesa de Rueda insiste que a acusação é infundada e que o dirigente do União Brasil jamais participou da aquisição das aeronaves. Já o piloto reforça que decidiu falar por indignação com o que presenciou. “O que contei à imprensa é o mesmo que disse à Polícia Federal”, afirmou.