Presidente da Câmara tenta ganhar tempo em meio a divisões internas e temor de nova derrota sobre projetos ligados a Bolsonaro
Por Sandra Venancio – Foto Lula Marques/Agencia Brasil
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou nesta quinta-feira (25) que precisa de “mais tempo” para avaliar o Projeto de Lei da “dosimetria”, nome dado ao antigo PL da anistia. A proposta, que busca aliviar a situação jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), enfrenta resistência dentro e fora do Congresso e ainda não tem texto consolidado.
Motta justificou a cautela dizendo que não houve diálogo suficiente com os partidos. “Não tenho uma temperatura precisa de como tem sido a conversa do relator, até porque ele não conversou ainda com todos os partidos, e eu não conversei com os líderes. Então eu preciso de um pouco mais de tempo para poder entender qual é o sentimento da Casa”, declarou.
O movimento ocorre semanas após a derrota acachapante da PEC da Bandidagem, rejeitada por unanimidade no Senado depois de ter sido pautada de forma relâmpago na Câmara. A repercussão negativa da tentativa de ampliar a imunidade parlamentar deixou o presidente da Casa fragilizado politicamente e expôs seus limites diante da necessidade de diálogo em um sistema bicameral.
Nos bastidores, há duas leituras distintas sobre a postura de Motta. Uma ala avalia que ele estaria articulando junto ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e ao presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA), para tentar viabilizar um texto menos explosivo e dividir responsabilidades em caso de derrota. Outra corrente, porém, o vê perdido e temeroso de repetir o fiasco da PEC, avaliando cada movimento com receio de novo desgaste.
O desgaste ficou evidente também na relação com o relator do projeto, Paulinho da Força (Solidariedade-SP). Mais cedo, o deputado havia condicionado a votação do PL que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda à análise da “dosimetria”, o que irritou Motta. Ele desautorizou publicamente o relator, lembrando que a prioridade da Casa é atender à demanda popular pela isenção, considerada hoje uma das pautas de maior interesse social.
Por ora, o cenário mais provável é que o PL da “dosimetria” siga sem data para ser votado, podendo até mesmo ser engavetado diante da falta de consenso e do risco de mobilização popular contra a medida.