Somente no Iterpa foram 5 meses de conversas com quilombolas e indígenas e, em particular, com a família Tabaranã: promessas vazias e não cumpridas pelo presidente da Belém Bioenergia do Brasil (BBB), a interessada, sob o guarda chuva financeiro do Opportunity.
As negociações para a compra da Agropalma pelo Banco Opportunity, conduzidas ao longo de cinco meses pelo empresário Victor Almeida — ligado ao banco e também presidente da Belém Bioenergia do Brasil (BBB) — acabaram naufragando diante de uma combinação de entraves fundiários, com fraudes, grilagem e problemas financeiros que inviabilizaram o fechamento do negócio.
O Ver-o-Fato apurou a causa do malogro desse negócio e vai trazer, hoje e nos próximos dias, detalhes desse trabalho jornalístico. Trata-se de assunto de grande interesse público, pois a Agropalma gera no Pará cerca de 5 mil empregos diretos e 20 mil indiretos. A empresa é a maior exportadora brasileira de óleo de palma e palmiste para o mercado internacional. Porém, ela está mergulhada em grave crise financeira. Uma imensa dor de cabeça para as cinco herdeiras.
Desde o começo, Victor Almeida se apresentou como representante direto do Opportunity e responsável por articular os investidores interessados. Ele buscou interlocução em várias frentes: conversou com a Associação dos Remanescentes de Quilombos da Comunidade da Balsa, Turiaçu, Gonçalves e Vila Palmares do Vale do Acará, além de lideranças indígenas da etnia Turiwara, que reivindicam judicialmente parte dos 106 mil hectares cuja posse é detida pela Agropalma.
Desse total, por outro lado, cerca de 60 mil hectares pertencem à família Tabaranã, conforme inventário e vasta documentação das terras deixados aos familiares pelo patriarca, Antônio Maia. Apesar dessas tentativas, as tratativas esbarraram em diversos obstáculos.
Conflitos fundiários não resolvidos
De acordo com fontes ouvidas em São Paulo, Belém e Tailândia, os quilombolas, indígenas e a família Tabaranã nunca chegaram a um consenso com o emissário do Opportunity. As promessas feitas por Victor Almeida soaram vagas e não foram formalizadas em documentos, gerando desconfiança.
Almeida, para quem não sabe, é um empresário bem sucedido nos negócios, embora tenha fama de difícil negociador. Ele é o atual presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Palma (Abrapalma) e integrante do conselho da Ambipar, ex-Biofílica, ligada à venda de créditos de carbono na Amazônia e às portas de uma recuperação judicial, com rombo que alcança R$ 15 bilhões
Procurado pelo Ver-o-Fato e com perguntas em aplicativo de mensagem, Victor Almeida não atendeu às ligações e nem respondeu aos questionamentos. O espaço está aberto à manifestação dele.
As herdeiras da Agropalma, por sua vez, não querem mais saber de segurar os prejuízos e decidiram cumprir a vontade do pai: desfazer-se do patrimônio do grupo. Feito isso, elas já venderam, em 2022 o Banco Alfa, por R$ 1 bilhão, para o Banco Safra; a rede de material de construção C&C, por mais de R$ 120 milhões livres de prejuízos; um terreno na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, por R$ 370 milhões, além do Hotel e Rádio Transamérica FM, para o banco BTG Pactual, por valores não divulgados.
Hoje, Lúcia, Júnia, Flávia, Cláudia e Eliana exigem garantias sólidas antes de avançar na venda da Agropalma, que tanto para elas como para eventuais compradores é a “joia da coroa” deixada pelo banqueiro Aloysio de Faria.
Preço e confiança decaída
O maior problema envolveu divergências sobre o preço da venda. Chegou-se a falar em uma avaliação de R$ 1,5 bilhão pela companhia, mas as herdeiras pediam algo próximo de R$ 2 bilhões.Ou seja, “porteira fechada”. Ao pagar às herdeiras o valor acordado, o dirigente da BBB ficaria responsável pela negociação direta com a família Tabaranã. Por duas vezes isso foi tentado, mas o fracasso também foi retumbante. Victor Almeida ofereceu proposta considerada “humilhante” e longe do pretendido.
Almeida chegou a buscar recursos adicionais, inclusive em um banco de Portugal, segundo uma fonte do Ver-o-Fato em São Paulo, mas não houve confirmação de que tivesse assegurado o valor necessário. O impasse sobre o preço contribuiu para minar a confiança das partes.
O Opportunity pediu um prazo de exclusividade de 30 dias, mas, diante da falta de definições e da constatação de que a operação era mais arriscada do que se imaginava, não conseguiu consolidar a compra. Ao fim desse período, perdeu a preferência e abriu espaço para outros interessados no mercado.
No bastidor, fontes afirmam que Victor Almeida adotou uma postura de segurar as tratativas, retardando respostas e alongando discussões, possivelmente na tentativa de reduzir o valor de venda. A estratégia, contudo, não funcionou: desgastou as negociações com as herdeiras e aumentou a resistência das comunidades locais.
Hoje, com o fracasso da tentativa do Opportunity, a Agropalma segue em busca de alternativas. Outros grupos já manifestaram interesse, mas qualquer candidato à aquisição enfrenta os mesmos dilemas: um ativo de grande valor no mercado internacional, mas fragilizado por litígios fundiários, operações deficitárias e sérios questionamentos ambientais.
Há ainda um agravante: a Agropalma, desde 2021, funciona sem licença ambiental da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), algo difícil de acreditar, mas verdadeiro. Para resumir: opera à margem da lei, correndo risco de ser fechada a qualquer momento.
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